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terça-feira, 3 de maio de 2016

Alojamento para estudantes: Uma nova categoria de investimento imobiliário?

A comunidade de estudantes estrangeiros em Portugal aumentou drasticamente nos últimos anos. Segundo dados da Direcção Geral das estatísticas do Ensino Superior e Ciência, entre 2009 e 2014, o total de alunos não nacionais inscritos no ensino superior passou de cerca de 19 mil para quase 34 mil.

Para este aumento exponencial contribuíram decisivamente diversos factores, como os programas de mobilidade académica internacional, com especial destaque para o Programa Erasmus, e o Estatuto do Estudante Internacional, aprovado recentemente, que constitui uma oportunidade para atrair, cada vez mais, um maior número de estudantes estrangeiros.

As diversas Universidades Portuguesas tiveram também um papel preponderante, com um investimento significativo numa maior visibilidade internacional da qualidade do seu ensino, através de acreditações internacionais, as quais tiveram impacto na subida nos mais conceituados rankings internacionais. Para se adaptarem à nova procura, as Universidades aumentaram a oferta de cursos em língua inglesa, tendo organizado os seus currículos de forma a integrar o estudante internacional.

A facilidade de integração do estudante na comunidade local é muito elevada, pelas mesmas razões que aparecem no índice de satisfação de quem nos visita em turismo: a afectividade do povo; o bom nível de inglês do português médio; sentimento de segurança; clima; gastronomia; custo de vida e a relação preço-qualidade. A visibilidade através do aumento do turismo, e mais especificamente do turismo jovem, por via da abertura de várias ligações low cost e do destaque, através dos vários prémios internacionais ao longo dos últimos 8 anos, de Lisboa e Porto como as cidades com os melhores hostels do mundo.

Se a tudo isto juntarmos o lançamento da startup Portuguesa Uniplaces, a nova coqueluche da recente vaga de startups made in Portugal, que em 2013 criou um portal internacional para reserva de alojamento de estudantes e a exposição internacional dos programas de aceleração e incubação de startups como o Lisbon Challenge ou a Startup Lisboa, então temos a tempestade perfeita para uma série de mudanças no sector.

Esta nova realidade permite um olhar renovado relativamente a esta categoria de activos, com alterações significativas aos pressupostos do modelo financeiro do negócio.

Com a chegada desta nova comunidade, ruas e bairros que antes eram proibidos passam a fazer parte das suas rotinas, ou seja, há uma reinterpretação do conjunto dos critérios objectivos e subjectivos de avaliação da malha de geografia urbana. O seu poder de compra é muito superior ao do Português e têm facilidade na obtenção de crédito para financiar o seu percurso académico, alargando o leque de escolha e aumentando o nível de exigência relativamente ao produto e aos serviços associados. A forma como os alojamentos passaram a ser comunicados e distribuídos comercialmente teve um substancial impacto nas taxas de ocupação e preço. Nomeadamente, com a maturidade e sofisticação na evolução dos agentes de distribuição destes mercados estudantis e sobretudo a eficácia das suas plataformas online, específicas para estabelecer a ponte entre uma oferta pouco profissional destes produtos (tão diversificados e dispersos na cidade) e clientes de perfis ecléticos (ou mesmo antagónicos...) com perfis de busca confusos.

Assumindo que as recentes alterações na dimensão, distribuição e no segmento da procura terão impacto na rentabilidade da categoria, então as mudanças terão de passar forçosamente pelo lado da oferta, profissionalizando o sector e criando conceitos que vão ao encontro das necessidades e vontades desta nova “tribo”.

Com este pano de fundo, e apesar das especificidades do utilizador final, este tipo de alojamento temporário não deixa de se enquadrar na indústria da hospitalidade. Dentro da hospitalidade, os grupos que lidam com o turismo jovem serão aqueles que estarão melhor preparados para desenvolverem e explorarem conceitos que estarão algures entre um hotel e um hostel e a vida comunitária duma república estudantil.

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Por Bernardo d'Eça Leal
Managing Partner
The Independente Collective
www.thecollective.pt

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