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terça-feira, 7 de junho de 2016

A formação turística

No dia 16 de Maio celebraram-se os 25 anos da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril. É, por natureza, a escola de referência para o sector e importa lembrar que outras há que são marcos importantes do excelente trabalho feito ao longo de cerca de 50 anos que leva já a formação profissional no sector. Nesta referência não podemos esquecer a Escola de Hotelaria do Porto, pioneira na formação superior em Portugal, cujo curso de Gestão Hoteleira ombreou com as escolas suíças. Aliás, a oferta turística francesa recorria muito aos formandos saídos desta escola sobretudo pela qualidade da formação aí feita.

Portugal é assim uma referência na formação turística e para tal concorreu a aposta que o sector fez nesta área. Cedo se percebeu que para ter um turismo nacional de qualidade tínhamos que apostar em duas vertentes em simultâneo: melhoria da qualidade da procura e melhoria da oferta. E estas duas vertentes tinham de viver e desenvolver-se em conjunto. Uma não “vivia sem a outra”. Se a qualidade da procura era da responsabilidade de quem se preocupava pela promoção, a qualidade da oferta tinha essencialmente duas componentes: a concepção do produto, essencialmente ligada à legislação dos empreendimentos turísticos e à capacidade dos promotores em conceber produtos adequados à procura, e a formação. E desde os anos 70 que esta preocupação foi assumida de forma muito séria por quem tinha a responsabilidade técnica e política de desenvolver o sector do turismo. 

O sucesso do desenvolvimento turístico do país assentou nas várias vertentes e a formação teve um papel central neste desenvolvimento. As décadas de 70 e 80 foram importantíssimas para o sector turístico. Nesta época foi criada uma das melhores legislações turísticas da Europa e uma formação de referência. Mas nada disto teria sucesso se não existissem empresários com visão e com a preocupação de que, para além da qualidade do seu empreendimento, este nunca seria concorrencial a nível internacional se não oferecesse um serviço de qualidade. E para tal era importantíssimo apostar na formação dos colaboradores. Tinham a noção exacta de que um “Bom dia” bem ou mal dado a um cliente ganhava ou não clientes para a unidade. 

E foi assim que entidades públicas e privadas deram as mãos e em conjunto avançaram para o desenvolvimento do sector nas várias vertentes. Mas não pensemos que o caminho foi fácil. Na área da formação, a capacidade de resposta era muito reduzida. As escolas tinham pouca capacidade formativa para as necessidades. Várias empresas tiveram de recorrer a acções de formação para os seus funcionários. Com a entrada na Comunidade Europeia em 1986, os fundos comunitários para a formação permitiram criar novas escolas e polos de formação profissional e sobretudo corrigir as assimetrias existentes entre as várias profissões. E é nesta altura que surge a Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril. No entanto, esta escola não resolveu o problema. A formação existente não cobria 50% das necessidades do sector e as assimetrias mantinham-se e até se agravavam. A expectativa dos formandos era a obtenção de uma licenciatura, expectativa lícita mas que não satisfazia as necessidades de um mercado cada vez mais exigente. 

Este problema agravava-se com a interioridade, ou seja, com a dificuldade de se conseguir mão-de-obra qualificada para trabalhar fora dos principais centros urbanos e das zonas turísticas mais significativas. E esta questão continua e continuará a fazer-se sentir. O custo da formação em algumas profissões turísticas, como por exemplo a de cozinheiro, implica equipamento muito específico e espaço físico para as aulas práticas. Se compararmos estas necessidades com outras profissões, como Gestão Hoteleira ou Recepcionista, poderemos compreender a existência destas assimetrias.

Existem profissões com saídas profissionais garantidas porque a formação é deficitária em relação às necessidades. Mas outras há em que se passa o contrário. Face a esta situação, muitos empreendimentos começaram a “roubar” empregados de outros empreendimentos, esquecendo-se de que se hoje são eles que “roubam”, amanhã serão eles os “roubados”. Ninguém ganha nada com estas situações, nem mesmo o empregado. 

Como conselho, se me é permitido, recomendaria aos futuros proprietários de empreendimentos turísticos., sobretudo no interior, que motivem os jovens locais a qualificarem-se nestas profissões com a promessa de terem emprego garantido. Ganha o empreendimento porque obtém profissionais formados de raiz, sem vícios e a viverem na sua área de implementação, ganham os jovens desafiados porque vão fazer uma formação com saída profissional garantida na sua área de residência e ganha o empresário porque “a tempo e horas” tem este problema resolvido.

A terminar, gostaria de endereçar as minhas felicitações à Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril pelos 25 anos de vida, Direcção, a todos os seus docentes e funcionários pelo trabalho que vêm desempenhando em prole da formação no sector do turismo mas também de louvar todas as escolas profissionais, publicas e privadas que, pela capacidade formativa que demonstram, têm contribuído para a qualidade do serviço dos empreendimentos turísticos do País.

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Por Rui Soares Franco
Consultor Turismo e Hotelaria

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