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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Causas do sucesso do Golfe em Portugal

Portugal foi, recentemente, reconhecido como o primeiro destino de golfe a nível mundial. Trata-se de mais uma etapa ganha na afirmação do país como um destino turístico de excelência. Este reconhecimento é o corolário de todo o trabalho desenvolvido para que o golfe pudesse desempenhar o seu papel em prol de um turismo de qualidade que se pretendia para Portugal desde os primórdios do seu desenvolvimento.

Muito teve de se fazer e muitas “lutas” se travaram ao longo dos tempos para que tal se pudesse concretizar. Tinha-se a noção que seria um trabalho árduo, mas não impossível. Várias barreiras se teriam de ultrapassar.

A primeira barreira foi, poderíamos dizer, quase política. Estávamos em pleno PREC e era preciso convencer que se tratava de desenvolver uma actividade numa vertente turística e não exclusivamente para residentes. Quero com isto dizer que era preciso desmistificar a carga política de que estava revestida a questão.

Outra barreira prendia-se com a viabilidade económica face à realidade do golfe em Portugal. Os campos de golfe para serem economicamente viáveis necessitam de ter uma “clientela” permanente, ou seja, residentes que joguem golfe em número suficiente para permitir ultrapassar o impacto da sazonalidade do fenómeno turístico na viabilidade do campo.


Para além disso, o mercado do golfe necessita algumas condições para se implementar ou seja:
  • Capacidade de alojamento para se poder atingir o número mínimo de green fees que viabilizem os campos;
  • “Bom” clima, sem neve e sem muita chuva;
  • Pelo menos 5/6 campos de golfe num raio de acção que não deverá ultrapassar os 100/120 kms. O turista que joga golfe durante as suas férias não quer jogar sempre no mesmo campo. Gosta de variar;
  • Possuir argumentos de competitividade com outros destinos já com historial e clientela fidelizada;
Com esta situação, o desenvolvimento do golfe exigia um investimento inicial de recuperação difícil, se não mesmo impossível. Eram demasiadas barreiras. No entanto, não se desistiu. Foram identificados alguns aspectos positivos que poderiam “romper” com a situação.

Este desenvolvimento começou pelo Algarve:
  • Era uma região com o clima ideal para se poder jogar golfe durante todo o ano;
  • Tinha capacidade alojamento mínima para garantir a afluência acrescida de turistas;
  • Gozava já de uma notoriedade internacional como destino turístico de excelência;
  • Possuía condições morfológicas ímpares para a implementação de campos de golfe competitivos e com diversos graus de dificuldade assim como possibilidades de associar aos campos componentes imobiliárias que permitissem alavancá-los financeiramente.

A lei hoteleira de 1970 e, sobretudo a de 1986/1989, foram elementos preponderantes no desenvolvimento integrado destes campos de golfe associando-lhes as componentes turísticas e imobiliárias necessárias para colmatar os riscos de investimentos dos próprios campos.

A componente imobiliária com preços alavancados pela presença dos campos de golfe permitia, por um lado, melhorar as condições de recuperação do investimento, tornando-o mais atraente e, por outro lado, criar massa crítica de utentes do campo que aumentassem a sua rentabilidade. Só assim este desenvolvimento seria possível. E foi-o!

Ao longo destes últimos 40/50 anos, Portugal foi-se impondo no mercado. Com investimentos muito bem planeados, com projectistas de nomeada, foram surgindo campos, foi-se estruturando a oferta e Portugal começou a ser conhecido como destino de golfe. Primeiro por ter campos de golfe competitivos e variados e depois por apresentar uma oferta turística de alojamento de qualidade, para além de um mercado imobiliário atractivo.

Por outro lado, o seu clima ameno criava a possibilidade de se jogar golfe durante todo o ano, o que não acontecia na maioria dos destinos de golfe, como na Escócia, EUA, Inglaterra, Canadá e outros. Julgo que este foi um dos factores determinantes para a procura quase desenfreada do Algarve por parte do mercado do golfe.

Esta dinâmica começou a estender-se ao Alentejo e a outras regiões do País, embora estas não apresentassem a mesma apetência que o Algarve. Projectos houve que não tiveram sucesso ou que muito tiveram que lutar para singrarem. Outros acabaram por beneficiar deste desenvolvimento com o aumento da procura a nível do mercado interno.

Foi nesta luta ao longo de mais de meio século que chegamos a este reconhecimento internacional que muito nos honra e que contribuiu para o desenvolvimento turístico do País.

O mercado do golfe é um mercado fiel. Na sua maioria, os jogadores que jogam nestes campos voltam muitas vezes e quando fazem férias de golfe, frequentemente duas vezes por ano, numa delas regressam aos campos onde gostaram de jogar.

Para além disto, temos o mercado americano (só a Califórnia tem mais de 300 campos de golfe!) que, não podendo jogar nos meses de inverno devido à neve, vinha jogar a Portugal. Alturas houve em que havia charters a saírem de Nova Iorque à 5ª feira à noite directos ao Algarve e regressavam no Domingo à noite.

Por todos estes motivos e graças ao empreendedorismo dos empresários turísticos portugueses, podemos congratular-nos por este reconhecimento internacional. Bem hajam!

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Por Rui Soares Franco
Consultor Turismo

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