menu

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Cidades inteligentes e sustentáveis


Por José Carlos Marques da Silva
Economista, membro do Grupo de Trabalho da CIP “Fazer acontecer a regeneração urbana”







--


As cidades e os aglomerados urbanos são hoje pólos de desenvolvimento incontornáveis numa economia cada vez mais competitiva e global. O economista e prémio Nobel Paul Krugman, afirma mesmo que o crescimento das cidades será o motor económico do desenvolvimento do futuro. É comum dizer-se que o século XIX foi das Nações, o século XX dos Países e o século XXI será o da afirmação e hegemonia das Cidades num contexto global. As cidades emergem como os grandes players da competitividade global.

Pela primeira vez na história, mais de metade da população mundial, acima de 3,5 mil milhões de pessoas, vive e trabalha nas cidades, quando no início do século XX essa percentagem era de apenas 10%. A população urbana, apesar de só ocupar uma área de cerca de 1% do planeta, é hoje responsável pelo consumo de cerca de 75% da energia mundial e mais de 65% dos resíduos gerados em todo o mundo.

Esta tendência de forte pressão demográfica, nas principais áreas urbanas, vai-se acentuar nos próximos anos. Diferentes estudos apontam para que, até 2050, a percentagem de pessoas a viver nas cidades possa subir para 80 a 85% da população mundial. O mundo é e será cada vez mais urbano e dependerá da articulação e da rede que se cria à volta destes verdadeiros motores ou catalisadores do crescimento.

Este grande afluxo às cidades coloca desafios importantes à capacidade para gerir a vida colectiva e as externalidades espaciais aí geradas. A crescente pressão sobre a procura de bens, públicos e privados, empregos, habitação, a evolução demográfica e o envelhecimento das populações, as soluções de mobilidade urbana, de eficiência e sustentabilidade energética ou as formas de financiamento público, colocam desafios sem precedentes e obrigam a uma verdadeira reinvenção das cidades, para serem capazes de responder aos novos desafios.

Uma gestão adequada do complexo sistema urbano, é determinante para assegurar a competitividade e os equilíbrios territoriais. Precisamos de novos caminhos e de novos paradigmas. Para assegurar novos modelos de gestão e governação urbana, que nos permitam ter cidades mais competitivas, solidárias e sustentáveis, temos de saber combinar o capital intelectual, a inovação e criatividade local e global.

Um conjunto de iniciativas da União Europeia, têm como referencial de partida a necessidade de construírem cidades inteligentes e sustentáveis, energética e ambientalmente, como a via que nos pode garantir um modelo económico e social europeu mais competitivo e equilibrado. É o caso da estratégia 20/20/20, ou da promoção das Cidades Inteligentes.

Em Portugal esta tendência e os estrangulamentos à vida e ao desenvolvimento urbanos também se fazem sentir. Os recentes censos de 2011, evidenciam a tendência, há muito iniciada, entre nós, para um crescente afluxo às cidades e uma continuada desertificação do interior. Essa evidência requer uma reorganização da vida colectiva, com a reafectação de bens e serviços públicos, modelos de governação adequados e inclusivos e o desenvolvimento de políticas que combatam as assimetrias e promovam em Portugal verdadeiros territórios competitivos.

As experiências e os ensinamentos do desenvolvimento urbano sustentável, mostram-nos que o caminho é “crescer para dentro” e não continuar a aposta na mera expansão geográfica das nossas cidades, tipo mancha de óleo. A regeneração e requalificação das nossas cidades emergem como as melhores vias para assegurar a sociodiversidade territorial e cidades mais competitivas e sustentáveis.

Ao contrário do que acontece na generalidade dos restantes países membros da UE, em Portugal, ainda não existe uma cultura de regeneração enraizada. O peso da regeneração urbana, no total da produção do sector, representa entre nós apenas 6,5%, quando aqui ao lado, em Espanha, já ascende a 24% e a média da UE representa cerca de 37%.

A necessidade de reinvenção das nossas cidades será uma excelente oportunidade para dinamizar a economia nacional. Se as nossas empresas, autarquias, escolas e universidades, centros de investigação e o sistema científico nacional, souberem promover a inovação e a resposta positiva a este grande desígnio, podemos encontrar uma nova via para ganharmos competitividade e liderança e estaremos a garantir um novo modelo de desenvolvimento mais sustentável.

Sem comentários: