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segunda-feira, 21 de março de 2011

A Despromoção da Importância da Avaliação no Sector Imobiliário


Por João Garcia Barreto







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O sector imobiliário nacional atravessa, indubitavelmente, uma fase de declínio, não apresentando grandes resultados positivos, muito por consequência da crise do subprime. Desta forma, a conjuntura económica actual caracteriza-se, nomeadamente, por fracos indicadores económicos (desemprego, inflação, PIB…) que se traduzem, em termos gerais, numa contracção na concessão de empréstimos por parte dos bancos portugueses, denotando-se, assim, uma ausência de investimento imobiliário em todos os segmentos.

Face ao exposto, o mercado de imóveis de uso habitacional (o mais relevante) distingue-se, nas zonas urbanas e destinadas às classes baixa e média, pela relação entre a forte oferta e a fraca procura, apresentando um ténue dinamismo. No entanto, o potencial interessado na aquisição e/ou alienação de imóveis no referido segmento não depreendeu, ainda, que o mercado imobiliário não apresenta as mesmas características que tinha em tempos áureos já passados...

O potencial vendedor esquece-se que o valor do imóvel que pretende alienar não contempla o valor do crédito multi-opções (móveis, televisor, automóvel…) que outrora contraiu ou outra qualquer margem desusada. Por outra via, o potencial comprador diz, na gíria, que “a culpa é do banco” e esquece-se, face à necessidade de financiamento para viabilizar a aquisição mencionada, que as instituições financeiras apresentam, actualmente, dificuldades de liquidez, não sendo capaz de oferecer condições interessantes nos empréstimos. Adicionalmente, pretendem ainda garantias por parte das pessoas que procuram crédito para aquisição de habitação.

Relativamente a outros segmentos de mercado (industrial e comercial), a situação actual é praticamente semelhante, desdenhando-se, por outras razões, a questão sobre o crédito multi-opções por parte do vendedor.

O clima exposto gera, na prática da avaliação imobiliária, uma forte desconfiança por parte dos agentes imobiliários (por falta de formação académica) e dos principais interessados na aquisição e/ou alienação de imóveis, os quais apresentam inúmeras reclamações/reapreciações junto das instituições financeiras. A situação referida é, inexoravelmente, algo recorrente na prática da avaliação imobiliária. Actualmente, qualquer perito avaliador encontra-se, infelizmente, sujeito a actos ofensivos e agressivos por parte dos agentes imobiliários e, por vezes, dos próprios potenciais interessados na aquisição/alienação, os quais não conseguem contornar a conjuntura económica actual, a consequente desaceleração do mercado onde operam e, sobretudo, as condições de empréstimo (LTV) oferecidas pelas inúmeras entidades financeiras.

Infelizmente, a prática do avaliador é, em todas as situações, considerada como “bestial” no acto da visita, sendo, após resultado da avaliação, desvalorizada e colocada em dúvida por parte dos agentes imobiliários e dos potenciais interessados na aquisição/alienação. As referidas situações deturpam, assim, a realidade do mercado imobiliário, despromovendo e inutilizando a competência dos avaliadores imobiliários que não possuem qualquer objectivo em prejudicar o negócio dos intervenientes mencionados.


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João Garcia Barreto é licenciado em Finanças pelo ISCTE/IUL e detém um Mestrado Executivo em Gestão e Finanças Imobiliárias pelo ISCTE Business School. Actualmente exerce funções de Perito Avaliador e consultor de investimentos imobiliários e colaborador para a área de Internacionalização na LUSO-ROUX CONSULTORES, S.A.

17 comentários:

Gonçalo Nascimento Rodrigues disse...

João,

Apetece dizer que os avaliadores deitaram-se na cama que fizeram! Durante anos, andaram a "inflaccionar" avaliações de CH e agora puxam-nas para baixo, pelo mesmíssimo motivo.

Queriam o quê? O mercado que temos é e foi feito pelos avaliadores, pelos bancos e pelos fundos.

É tempo de se criar uma verdadeira e real classe de avaliadores imobiliários, isentos e independentes, com forte fiscalização sobre a sua actividade e como requisitos elevados em termos de formação. Só assim esta classe voltará a ganhar (algum) respeito.

Abraço,

Gonçalo

Unknown disse...

Boa tarde,

Infelizmente, concordo inteiramente consigo, Gonçalo. Durante muitos anos, os avaliadores tiveram um comportamento muito pouco ético. Hoje, o mercado está mais exigente, e é bom que assim se mantenha!!

Cumprimentos,
Liliana Montenegro

José Covas disse...

Meus Caros,

Concordo, todavia essa classe de avaliadores que mencionas Gonçalo já existe como sabes. Infelizmente o mercado continua a não os valorizar e a entender as avaliações como uma obrigação e não com a importância que devem ter. Só nessa altura as coisas poderão mudar. O trabalho de rigor e qualidade existe!

Gonçalo Nascimento Rodrigues disse...

Zé,

Não tenho dúvidas nenhumas que existem (muito) bons avaliadores! A questão é que a maioria não o são e foi o mercado quem os fez assim, a pagar honorários baixos por muitos trabalhos que não são (ou não deviam ser) simples, a esmagar margens no CH e tudo o mais...

E como estes são a maioria, o mercado tende a olhar para todos da mesma forma.

Mas acredito que a minoria, neste caso, irá prevalecer!

Sonia martins disse...

Estou inteiramente de acordo consigo Gonçalo.
Foi a classe da velha guarda de avaliadores e gestores de conta que criaram esta situação.
Mas alerto que ainda existem avaliadores e alguns promotores muito optimistas que ainda não tiveram a noção da realidade do mercado imobiliário e o belo comercial que só pensa na sua margem de promoção.
Na minha humilde opinião existe sim falta de know de muitos avaliadores pois qualquer um pode ser desde que seja Engº ou Arqº . e muitos nem formação nem informação têm sobre o LTV dos banco do Acordo Basileia entre outros factores A culpa não é toda dos avaliadores mas sim da rede montada à volta , os bancos por exemplo quanto é que cobram ao cliente pela avaliação €€€€€€ quanto pagam à empresa avaliadora €€€ e a empresa quanto paga ao avaliador €, saliento que o grau de exigência dos relatório actualmente é muito alta face ao que se paga. Pois esta é uma atitude que desmotiva a classe de avaliadores mas atenção existem ainda muitos que primam pelo seu bom nome na praça e fazem um óptimo trabalho.
Atitudes geram atitudes.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Cara Liliana e Caro Gonçalo:

Subscrevo inteiramente a intervenção do José… Acrescento, ainda, que existem inúmeras razões que justificam a existência da referida classe de avaliadores. Concordo, ainda, que o mercado deve ser mais exigente. No entanto, a exigência deve ser regrada e sustentada e deverá advir da qualidade, cujo princípio (esquecido noutros tempos por todos os players) deverá ser inicialmente aplicado pelo cliente, como solicitador da avaliação, o qual deverá sempre indicar e conhecer a base da avaliação. Cabe, assim, ao avaliador informar todos os pressupostos que justificam a sua opinião de valor. Acrescento, ainda, que a falta de informação disponibilizada pelo cliente (nomeadamente a planta de arquitectura, documentação actualizada do imóvel…) despromove, também, a qualidade e o rigor da avaliação. A informação mencionada tornará, assim, a avaliação ainda mais coerente e sustentará o mercado imobiliário.

Cumprimentos a ambos

João Garcia Barreto

Rita disse...

Os avaliadores são um alvo fácil de apontar.

Temos de debater a gestão patrimonial, como é feita e pensada. Quando o conceito de "valor potencial" ainda é estático e não dinâmico.

Quando se continua a dizer que terra é sempre terra, e não se introduz o conceito que é a gestão territorial.

Um terreno pode efectivamente valer Zero.

A avaliação é muito mais que o crédito hipotecário.

E existem bons e maus profissionais em todos os sectores, e conseguir dizer que "os avaliadores", é colocar todos no mesmo "saco".


Mas vivemos todos dentro do mesmo Mercado !


Um cordial cumprimento a todos

Rita Apolinário

Nuno disse...

A grande maioria das avaliações são feitas pelo método comparativo em que se compara a habitação visitada com 4 ou 5 outras na mesma zona através de um simples telefonema pra saber o preço ou através de consulta na net dos sites das imobiliárias, geralmente compara-se pelo preço mais baixo. Qualidade construção, qualidade dos materiais, são insignificancias. Esta é a verdadeira razão do !

Gonçalo Nascimento Rodrigues disse...

@ Rita: plenamente de acordo e reforço que há bons avaliadores. Não é isso que está em causa. O que está em causa, como diz e bem, parte muito de quem gere, de quem é proprietário e da conivência do avaliador. Como o João disse e muito bem, o problema nasce logo no momento em que a avaliação é pedida.

Mas há uma coisa com a qual não concordo: dizer-se que os avaliadores são um alvo fácil e, com isso, querer torná-los vítimas desta conjuntura. Eu acredito que são, em grande parte, também eles responsáveis por essa conjuntura. E, sim, eu também me considero responsável como player do mercado mas, sobretudo, como um verdadeiro apaixonado pelo nosso mercado imobiliário. E como vivemos todos dentro deste mercado, pois então toca de o mudar rapidamente. Afinal, só depende de nós!

@ Nuno: concordo em absoluto. A aplicação do método comparativo tem dessas coisas: um telefonema, uma incursão na net e já está! Pode bastar para alguns mas não deveria servir para o mercado!

Anónimo disse...

Gonçalo:

Parece que o assunto do artigo gerou discussão, "agitou as águas"... Os grandes responsáveis pela falta de credibilidade não são, decerto, os avaliadores e não vale a pena enunciar as razões e os principais culpados... Os avaliadores poderão ter uma mínima quota-parte da responsabilidade, porque foram empurrados para um sistema (felizmente, constatei através das más práticas exercidas e da experiência académica que deveria aplicar as devidas práticas). No entanto, acredito que a classe de avaliadores (onde estou inserido e a qual defendi no artigo) demonstra qualidade e rigor, procurando, devido a métodos antigos, arranjar soluções que permitam tornar o mercado mais sustentado através de uma avaliação mais coerente. E será que a referida classe é compreendida pelos restantes intervenientes? Todos os players têm a sua dose de culpa...

Cumprimentos aos intervenientes

João Garcia Barreto

Liliana Montenegro disse...

Parabéns João e Gonçalo, pelo tema trazido à discussão!!

Num artigo escrito pelo José Covas, em 2008, sobre a independência (ou a falta dela) dos avaliadores imobiliários, artigo que subscrevo totalmente, o José Covas, põe o dedo na ferida da avaliação imobiliária em Portugal.
Penso que os avaliadores, estão mais conscientes da necessidade de melhorar a sua capacidade técnica (e o mercado tem feito muita pressão nesse sentido), no entanto, continua a não existir um código ético e uma associação/ordem que efectivamente represente os interesses desta classe.
Temos muito trabalho pela frente, no sentido de significar a profissão!

Gonçalo Nascimento Rodrigues disse...

@João: essa da mínima quota-parte é que não concorda... mesmo nada!

Hoje olho para várias carteiras de Fundos e Investidores Institucionais e pergunto-me: como foi possível fazerem-se e continuarem a fazer-se estas avaliações?

@ Liliana: tenho eu de vos agradecer a todos comentarem e partilharem as vossas experiências. Sem isso, o blog dificilmente será uma mais-valia para todos.

Anónimo disse...

Caro Gonçalo:

Não vale a pena enunciar os principais culpados... mas todos os players têm a sua dose de culpa... Talvez a congregação das forças do mercado imobiliário seja a solução ou será a referida situação, em Portugal, utópica? Para o efeito, existe o "Out of the box"

Um abraço

Gonçalo Nascimento Rodrigues disse...

@ Anónimo: por favor, identifiquem-se sempre nos vossos comentários.

Pessoalmente, com sinceridade, I don't give a shit who's to blame! Falamos sobre os avaliadores, o João expôs o ponto de vista dele, eu expus o meu. Não me interessa muito se são muito ou pouco culpados mas não venham queixar-se nem pôr-se de lado do problema.

Trabalho todos os dias por encontrar soluções novas e criativas e é nelas que me foco. Prefiro pensar que sou parte da solução e não do problema mas não me ponho de lado dos problemas. O passado é o passado e a mim interessa-me o amanhã.

Pedro Roxo Dias disse...

Enquanto as avaliações continuarem a ser pelo método comparativo em que o avaliador visita o imóvel em causa e após a visita (as vezes até antes da mesma) procura na zona imóveis similares e vai ver o preço deles nas imobiliárias, sem ter em conta as diferenças de qualidade de acabamentos, método construtivo, classe energética, etc etc (pois não visita os imóveis com os quais compara o imóvel a avaliar), essas avaliações vão ser sempre deturpadas da realidade e nuns casas lezivas para os proprietários e noutras para os compradores

Gonçalo Nascimento Rodrigues disse...

Olá Pedro, obrigado pelo comentário!

O problema, para mim, não está tanto na aplicação do método que até o acho bastante correcto para o sector da habitação. O que não é bem feito, e que foca bem no seu comentário, é o trabalho de campo e a obtenção de comparáveis. Aqui é que os avaliadores cedem à tentação (ou se calhar à pressão do tempo) de "arrepiarem caminho"...

Abraço.