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terça-feira, 22 de março de 2011

A barriga do Arquitecto


Por Rui Bexiga Vale
Arquitecto - Owner of rbv.arq








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Este MIPIM de 2011 foi um tanto ou quanto sorumbático. Há 4 anos que me desloco a Cannes para este certame de magnitude mundial e tenho verificado in loco os efeitos da crise. Se no ano passado era claro que os grandes fluxos de capital se dirigiam para a Europa Central/Leste, Rússia, Turquia, Sudeste Asiático, Oceânia e América Latina, ou seja, podia não haver muito dinheiro, mas fluía, este ano as coisas ainda afinaram mais, segundo entendi: Paises Nórdicos, Europa Central/Leste (a mitteleuropa da Alemanha), Turquia e, com grande interesse este ano, o Brasil.

A percepção com que fiquei foi a de que estavam muitas cidades e regiões a mostrar as suas potencialidades e concorrendo assim na quimera de atrair investidores & etc., e havia pouca ou menos oferta do que o ano passado em termos de produtos e/ou empreendimentos imobiliários. Bastante institucional, actually. As grandes empresas de projectos continuaram a marcar presença, mas pouco ou nada diferentes do ano anterior. Mas estavam lá todas, porque mesmo em altura de crise, e apesar de alguns tímidos sinais de retoma, a noblesse oblige.

Repetindo um pouco a velha história que a palavra “crise” em chinês é composta por dois pictogramas, um significando “perigo” e o outro “oportunidade”, lá para cima a forte Suécia foi menos afectada pela borrasca económica do que os outros países europeus. Isso e uma forte Coroa fizeram com que houvesse liquidez para recomprar por muito bom preço as propriedades que há dez anos os investidores estrangeiros (ingleses, irlandeses, alemães, americanos) adquiriram no mercado sueco. Nota-se que há capital disponível e vontade de investir, o que se reflectiu numa grande quantidade de stands dos países nórdicos. Não me surpreenderia que, dada a instabilidade no lado Sul do Mediterrâneo, não passasse a haver bem mais investimento aqui no nosso país (sobretudo no turismo), o que seria óptimo. Para mais, com a possibilidade da Ryder Cup acontecer aqui em Portugal em 2018, e sendo a Suécia o país da Europa com mais praticantes de golfe (de acordo com European Golf Association, 5,7% dos suecos são praticantes de golfe, sendo esta a maior percentagem de jogadores por habitante da Europa), é bem possível que tal aconteça.

A actual realidade económica da Alemanha reflecte-se na pujante presença das cidades, regiões e instituições deste país na feira. Com liquidez e capacidade de investimento na sua vizinhança, o Centro/Leste europeu vai aproveitar o bom momento da Alemanha, e isso deu-me que pensar sobre a estratégia de internacionalização de muitas empresas Portuguesas. Muitas já tentaram esta área, algumas deram-se bem mas outras tiveram que direccionar os seus esforços para outras geografias.

Depois das dificuldades do mercado de Angola, com todas as oportunidades mas com os problemas de recebimento que se conhecem, boa parte dos players nacionais voltaram-se para o Norte de África. Só que os ventos de mudança sopraram com grande estrépito, e francamente a conjuntura não é de molde a continuar por lá, quanto mais investir. Recordo o stand da cidade do Cairo, com uma dimensão inusitada, mas muito pouco frequentado... Que contraste com os stands da Polónia (que vai acolher o Euro 2012), da Catalunha e do Brasil! Parece-me razoável cogitar que as empresas Portuguesas terão ainda uma boa chance no Centro/Leste europeu, porque se sente uma dinâmica de desenvolvimento que seguramente poderá gerar oportunidades de negócio para nós.

Ainda antes do Brasil, a Turquia. Parece-me um caso sério de Europeização avant-la-lettre, porque a quantidade de shoppings previstos para abrir nos próximos anos (11 unidades bastante grandes) e outros empreendimentos residenciais e turísticos, demonstra claramente que a aposta num mercado fortemente povoado e com progressivo crescimento terá um retorno assinalável, quer para os promotores locais, quer para os investidores estrangeiros. Talvez por isso, o ranking internacional das maiores empresas de projectos, para 2010, indicava que a empresa que previa facturar mais é turca, à frente dos colossos americanos, ingleses e japoneses. Convinha começarmos todos a entender como é que podemos actuar lá.

Finalmente, o Brasil. Mas esqueçam o folcolore do “país irmão”: somos tão diferentes como o samba do fado. A pujança dos números fala por si: 195 milhões de habitantes, o 5.º maior país do planeta e a 8.ª economia global. As oportunidades para as empresas portuguesas são inúmeras, sobretudo para ajudar a suprir as carências proporcionadas pelo super-desenvolvimento que o Brasil está a ter. E é já! Mas não nos podemos iludir: os Brasileiros têm os meios, têm os recursos e a única coisa que podemos fazer é estabelecer parcerias e criar sinergias com as nossas congéneres brasileiras, para levarmos o nosso extenso know-how e conhecimentos obtidos no nosso desenvolvimento recente para podermos lá actuar.

Ir à aventura é um suicídio empresarial! A cidade de São Paulo apresentou 3 áreas de desenvolvimento urbano primordial, com uma área extensíssima, o Rio de Janeiro trouxe a reconversão do seu porto, o Nordeste continua a dar cartas no desenvolvimento do imobiliário turístico, e o Brasil tem com o seu PAC 2 (Programa de Apoio ao Crescimento) 328 biliões de reais (aproximadamente 144 mil milhões de euros) para gastar. Feitas as contas, é cerca de 87% do PIB Português “só” para o seu desenvolvimento, e falam português. E essa, caros leitores, é uma vantagem para nós que não tem preço.

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