Por João Nunes
Director-Coordenador de Consultoria
Colliers International
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Numa conversa recente com um amigo que dedicou grande parte da sua vida ao mar, não deixei de pensar, no paralelismo entre o “negócio” da pesca em alto-mar e o investimento imobiliário.
Senão, vejamos: imagine-se que um navio é equivalente a um país (por exemplo Portugal), o comandante / timoneiro desse navio representa as entidades públicas que legislam, definem e impõem regulamentos, aprovam projectos e fiscalizam o funcionamento do mercado (imobiliário) em geral.
Finalmente, os marinheiros são os investidores imobiliários (nacionais desse país ou estrangeiros) que em determinado momento decidiram apostar numa campanha de pesca a bordo desse navio (em que boa parte da remuneração virá da quantidade de pescado capturado, tendo em atenção que cada marinheiro terá de ter um conjunto de cuidados para não se magoar ou cair “borda fora”).
As crescentes e significativas dificuldades no acesso ao financiamento (que se irão manter durante um longo período) traduziram-se num forte temporal que apanhou quase toda a “frota mundial” mais ou menos desprevenida. O navio “Portugal”, que há já algum tempo estava a apanhar mar encapelado, não levou “golpes de mar” tão fortes como por exemplo, os navios espanhol ou irlandês, que confiantes num mar bonançoso e com “engodo em peixe gordo”, navegavam demasiado próximo de costas rochosas e traiçoeiras não cumprindo elementares principios de prudência.
Por esta altura, a “marinhagem” de todos os paises já vestiu os equipamentos insufláveis habituais em condições de mar alteroso. Vários comandantes já corrigiram rotas e estão a levar as suas embarcações para o porto mais próximo. Mas no navio “Portugal” ainda não se viu nem ouviu o comandante na ponte. A marinhagem do “Portugal” é, de uma forma geral, de elevada qualidade e competência, tendo tomado as medidas e atitudes adequadas, mas, apesar disso, está a “levar pancada de mar” e não percebe o silêncio que emana da ponte de comando.
No entanto, o navio “Portugal”, possui ainda um problema adicional. O armador (leia-se Estado Português) está com dificuldades financeiras e fez uma parceria com um investidor (troika) que impôs que em troca de financiamento o navio terá de aumentar significativamente as “quantidades pescadas” anualmente. Na sua próxima entrada num porto o navio deve trocar rapidamente algumas redes há muito tempo “esburacadas” como seja a do “arrendamento habitacional” e outras peças ferrugentas e problemáticas como as actuais taxas de IMT, etc. É ainda imposta a rápida partida do navio para o alto-mar (já se sabe em condições de temporal mas que o navio tem condições para suportar), devendo-se escolher, para as futuras campanhas, bons “bancos de pesca” e tripulações motivadas e competentes.
Onde estão os timoneiros do navio? A estudar o problema? “Tempus Fugit” e Tempo é Dinheiro como disse Benjamin Franklin. Será que não acreditam em Benjamin Franklin? Bem, eu acho que a “marinhagem” acredita e sente que Benjamin Franklin tinha razão, pelo menos, neste ponto.
Alguém viu o(s) timoneiro(s)? Se os virem, por favor, digam-lhes que em outros paises os timoneiros já estão na ponte. Digam-lhes que os timoneiros de Espanha (com uma tarefa mais ingrata) já estão há algum tempo ao leme. Veja-se, por exemplo, as medidas já tomadas na área dos NPL (Non-Performing Loans) em Espanha.
Digam-lhes que a “marinhagem” do turismo está a pescar bem. Mas não ao ritmo que o armador queria. Mas se os “obrigam” a lançar as redes em zonas rochosas eles podem partir o “aparelho de pesca” e será pior para todos. É preciso dar “alguma folga” para que eles continuem o bom trabalho.
Digam-lhes que é preciso implementar com urgência a reabilitação habitacional, agilizar o sistema de justiça (incumprimentos), acabar com montantes de cauções e garantias injustificados, etc, etc. Mas digam-lhe também que o caminho é estreito. O armador “não vai ter muito dinheiro para acenar à marinhagem nos próximos tempos”. Não vai ser com dinheiro que os vai convencer a continuar a pescar nem a embarcar na próxima campanha. As “suas armas” serão fundamentalmente:
a) Perspectivas favoráveis que consiga criar na “marinhagem” de que os pode conduzir a melhores “locais de pesca” que outros timoneiros (arrendamento habitacional, Medical SPA´s, etc);
b) Salientar as boas características técnicas do “navio Portugal” (clima, segurança, beleza natural, nº de horas de voo às principais capitais da Europa, etc);
c) “Venda da imagem” de um timoneiro “acertivo, com bom senso e com alguma dose de coragem” (algo que não tem acontecido).
Se tudo isto acontecer perspectivam-se “boas pescarias”.
É por isso importante que o timoneiro apareça (rapidamente) na ponte e a sua voz de comando inspire confiança aos seus homens.
Bons Negócios (Imobiliários).
PS: O meu amigo referiu-me que nos dias em que chegam poucos navios ao porto são os dias em que se fazem grandes negócios.
Director-Coordenador de Consultoria
Colliers International
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Numa conversa recente com um amigo que dedicou grande parte da sua vida ao mar, não deixei de pensar, no paralelismo entre o “negócio” da pesca em alto-mar e o investimento imobiliário.
Senão, vejamos: imagine-se que um navio é equivalente a um país (por exemplo Portugal), o comandante / timoneiro desse navio representa as entidades públicas que legislam, definem e impõem regulamentos, aprovam projectos e fiscalizam o funcionamento do mercado (imobiliário) em geral.
Finalmente, os marinheiros são os investidores imobiliários (nacionais desse país ou estrangeiros) que em determinado momento decidiram apostar numa campanha de pesca a bordo desse navio (em que boa parte da remuneração virá da quantidade de pescado capturado, tendo em atenção que cada marinheiro terá de ter um conjunto de cuidados para não se magoar ou cair “borda fora”).
As crescentes e significativas dificuldades no acesso ao financiamento (que se irão manter durante um longo período) traduziram-se num forte temporal que apanhou quase toda a “frota mundial” mais ou menos desprevenida. O navio “Portugal”, que há já algum tempo estava a apanhar mar encapelado, não levou “golpes de mar” tão fortes como por exemplo, os navios espanhol ou irlandês, que confiantes num mar bonançoso e com “engodo em peixe gordo”, navegavam demasiado próximo de costas rochosas e traiçoeiras não cumprindo elementares principios de prudência.
Por esta altura, a “marinhagem” de todos os paises já vestiu os equipamentos insufláveis habituais em condições de mar alteroso. Vários comandantes já corrigiram rotas e estão a levar as suas embarcações para o porto mais próximo. Mas no navio “Portugal” ainda não se viu nem ouviu o comandante na ponte. A marinhagem do “Portugal” é, de uma forma geral, de elevada qualidade e competência, tendo tomado as medidas e atitudes adequadas, mas, apesar disso, está a “levar pancada de mar” e não percebe o silêncio que emana da ponte de comando.
No entanto, o navio “Portugal”, possui ainda um problema adicional. O armador (leia-se Estado Português) está com dificuldades financeiras e fez uma parceria com um investidor (troika) que impôs que em troca de financiamento o navio terá de aumentar significativamente as “quantidades pescadas” anualmente. Na sua próxima entrada num porto o navio deve trocar rapidamente algumas redes há muito tempo “esburacadas” como seja a do “arrendamento habitacional” e outras peças ferrugentas e problemáticas como as actuais taxas de IMT, etc. É ainda imposta a rápida partida do navio para o alto-mar (já se sabe em condições de temporal mas que o navio tem condições para suportar), devendo-se escolher, para as futuras campanhas, bons “bancos de pesca” e tripulações motivadas e competentes.
Onde estão os timoneiros do navio? A estudar o problema? “Tempus Fugit” e Tempo é Dinheiro como disse Benjamin Franklin. Será que não acreditam em Benjamin Franklin? Bem, eu acho que a “marinhagem” acredita e sente que Benjamin Franklin tinha razão, pelo menos, neste ponto.
Alguém viu o(s) timoneiro(s)? Se os virem, por favor, digam-lhes que em outros paises os timoneiros já estão na ponte. Digam-lhes que os timoneiros de Espanha (com uma tarefa mais ingrata) já estão há algum tempo ao leme. Veja-se, por exemplo, as medidas já tomadas na área dos NPL (Non-Performing Loans) em Espanha.
Digam-lhes que a “marinhagem” do turismo está a pescar bem. Mas não ao ritmo que o armador queria. Mas se os “obrigam” a lançar as redes em zonas rochosas eles podem partir o “aparelho de pesca” e será pior para todos. É preciso dar “alguma folga” para que eles continuem o bom trabalho.
Digam-lhes que é preciso implementar com urgência a reabilitação habitacional, agilizar o sistema de justiça (incumprimentos), acabar com montantes de cauções e garantias injustificados, etc, etc. Mas digam-lhe também que o caminho é estreito. O armador “não vai ter muito dinheiro para acenar à marinhagem nos próximos tempos”. Não vai ser com dinheiro que os vai convencer a continuar a pescar nem a embarcar na próxima campanha. As “suas armas” serão fundamentalmente:
a) Perspectivas favoráveis que consiga criar na “marinhagem” de que os pode conduzir a melhores “locais de pesca” que outros timoneiros (arrendamento habitacional, Medical SPA´s, etc);
b) Salientar as boas características técnicas do “navio Portugal” (clima, segurança, beleza natural, nº de horas de voo às principais capitais da Europa, etc);
c) “Venda da imagem” de um timoneiro “acertivo, com bom senso e com alguma dose de coragem” (algo que não tem acontecido).
Se tudo isto acontecer perspectivam-se “boas pescarias”.
É por isso importante que o timoneiro apareça (rapidamente) na ponte e a sua voz de comando inspire confiança aos seus homens.
Bons Negócios (Imobiliários).
PS: O meu amigo referiu-me que nos dias em que chegam poucos navios ao porto são os dias em que se fazem grandes negócios.
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