Por Rui Soares Franco
ruioreysfranco@hotmail.com
Consultor em Turismo e Hotelaria
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É comumente aceite que a crise
está a provocar uma alteração profunda nos valores vividos pelas pessoas e,
consequentemente, na sua forma de consumir. Nada ficará na mesma ou nada será
como dantes.
O sector do turismo não vai fugir
a esta máxima e tudo vai mudar não só na forma de consumir, como no que se vai consumir
e nos valores que o sector deverá defender.
Vem isto a propósito da nova
organização regional do turismo que se avizinha. Tudo ficará reduzido a 5
regiões no Continente, em virtude da necessidade de se cortarem despesas.
Segundo as mais recentes notícias, as alterações previstas permitirão “economizar
1 milhão de euros anuais só na redução dos salários das chefias” (sic).
Imediatamente se levantaram as
vozes das associações e outros actores do sector contra estas alterações. E os media apenas dão cobertura a quem não
concorda, esquecendo quem está de acordo e quem vê vantagens e inconvenientes.
Não quero acreditar que toda a gente está contra esta alteração. Eu, pelo
menos, vejo aspectos positivos e negativos mas não consigo ainda ter uma
opinião abalizada até porque, nessa visão, não consigo esquecer todo o meu
percurso profissional na extinta, ou antes, reconvertida Direcção-Geral do Turismo.
Não conheço em pormenor a solução
apresentada, apenas sei o que vai saindo nas notícias e a argumentação dos
contestatários. No entanto, tenho uma opinião muito concreta sobre a solução para
as novas Entidades Regionais de Turismo (ERT).
Nunca concordei com a actual
divisão regional do turismo. Efectivamente, a existência de 6 pólos de
desenvolvimento dentro de ERT com competências idênticas nos respectivos
territórios dava uma ideia de criação de estruturas para defender algumas
”clientelas”. Por outro lado, criar Agências para a promoção externa das
regiões, desligadas das ERT, também não seria a solução ideal. Quando na década
de 80, a promoção turística foi separada da Direcção-Geral do Turismo e foi
criado o Instituto de Promoção Turística, posteriormente integrado no ICEP, foi
o descalabro de toda a intervenção pública no sector. A promoção passou a ser
feita de forma completamente desligada do esforço que estava a ser desenvolvido
na consolidação de produtos e destinos turísticos.
Desenvolver um sector em que a
oferta e a procura não concertavam estratégias era impossível. E esta situação
prolongou-se por mais de vinte anos, terminando com a criação do actual Turismo
de Portugal onde se juntaram novamente as duas vertentes.
Estranhamente, esta iniciativa coincide
com a criação das ERT e das Agências Regionais de Turismo (ART), ou seja, por um
lado junta-se a oferta e a procura a nível nacional e, por outro, separam-se as
mesmas vertentes a nível regional.
Com o novo regime em perspectiva,
esperemos que voltem a juntar-se as duas áreas a nível regional.
Mas esta junção, como quase tudo
na vida, tem aspectos positivos e negativos.
Como aspectos positivos, temos a
concentração de competências nas apenas 5 ERT com a obrigação de racionalizar
custos e estruturas e permitindo um esforço conjugado nas áreas da promoção e
desenvolvimento de produtos, marcas e destinos. Outro aspecto positivo prende-se com a entrada dos
privados na gestão destas ERT. A confirmar-se, deixam de se justificar as ART.
Por outro lado, o anteprojecto prevê que apenas o Presidente da ERT será
remunerado, podendo no entanto contratar um Director Executivo remunerado. Terão
que ser cortadas despesas da ordem dos 30% em relação aos valores actuais. As
verbas poupadas com estas reestruturações serão aplicadas na promoção externa
do país.
O grande contra deste
anteprojecto prende-se com a capacidade que as futuras ERT’s terão para
prosseguir os seus objectivos sem pôr em causa o trabalho realizado até agora
com a estruturação de produtos turísticos, implementação de marcas e estruturação
dos destinos turísticos. Será que as ERT’s terão capacidade para dar conta do
recado ou não?
Terão capacidade para continuar a
estruturar produtos como sejam o Enoturismo, a Gastronomia, o Turismo Religioso
e o Cultural, o Golfe, e outros?
Terão
capacidade para acompanhar a par e passo a evolução das novas tendências da
procura, com as intervenções adequadas de adaptação dos produtos e dos destinos
às suas novas tendências?
Esta capacidade não passa pela
contratação de um Director Executivo pago. Passa, sim, por criar uma estrutura
intervencionista, atenta e com capacidade técnica para os desafios que se
avizinham. E é aqui que estará a solução mais do que elaborar organigramas e
serviços com nomes pomposos mas que nada fazem.
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