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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A performance do turismo português




Por Rui Soares Franco
ruioreysfranco@hotmail.com
Consultor em Turismo e Hotelaria




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Nos últimos dias do ano foram publicadas muitas notícias que nos davam a conhecer o bom comportamento do Turismo Português durante o ano de 2013. Habituados, ultimamente, apenas às más notícias, foi muito bom saber que o sector do Turismo tinha apresentado crescimentos muito significativos, quer em número de turistas, quer em termos de receitas. Por outro lado, aparecem grandes referências a algumas regiões do País como principais pontos a visitar durante o ano de 2014, como por exemplo a cidade do Porto ou a Região Alentejana.

E foi pensando nesta região, pela qual tenho grande carinho, não só pelas minhas ligações familiares, mas também por muito a ter trabalhado como representante dos Serviços Centrais de Turismo nos concelhos de Elvas e Odemira e, por esse facto, também com as três Regiões de Turismo aí existentes, que me levou a pensar que esta situação não aparece por acaso.

Existem razões para esta situação! Irei referir essencialmente três aspectos, de entre outros, que me merecem maior atenção.

O primeiro aspecto que gostaria de referir prende-se com alguma capacidade demonstrada pelos empresários do sector em ver o Turismo como um TODO e não apenas o seu projecto, isolado da realidade. Este aspecto demonstra uma maturidade empresarial digna de registo e de aplauso. Só com esta mentalidade se pode estruturar um bom produto a oferecer aos turistas.

Um segundo aspecto prende-se com a nova legislação dos empreendimentos turísticos aprovada em 2008. Os resultados estão à vista. Deixar os empresários formatar a sua unidade e prepará-la para a sua clientela é de louvar. O hoteleiro sabe muito bem o que quer fazer e ser obrigado a alterar o seu produto por normas rígidas, como as que existiam na legislação de 1997, era lamentável. Continuamos a ter uma hotelaria do melhor que se faz no mundo e muito mais competitiva. E os resultados estão à vista!

O último aspecto, e talvez o mais significativo, prende-se com a regionalização turística. O novo quadro legal das Entidades Regionais de Turismo, publicado em 2008 e recentemente alterado, apontava para uma nova visão da Regionalização Turística. Em termos de Ordenamento Turístico e durante décadas, o país era uma manta de retalhos com 19 Regiões de Turismo, algumas Juntas de Turismo - sendo as mais emblemáticas as Juntas de Turismo do Estoril e do Luso - e algumas Comissões Municipais de Turismo. O território estava retalhado e vivia de grandes rivalidades concelhias. Podia escrever livros com situações caricatas destas rivalidades. Para terem uma ideia, Guimarães nunca aderiu à Região de Turismo do Verde Minho porque entendia que a sede deveria ser em Guimarães e não em Braga. Nunca se chegou a consenso e assim o concelho de Guimarães sempre foi uma ilha no meio daquela Região de Turismo.

Com tal manta de retalhos, era impossível estruturar produto e muito menos destino.

Em 2008, tudo mudou. Foram extintas todas as Regiões de Turismo, Comissões Municipais de Turismo e Juntas de Turismo e foram criadas cinco grandes regiões, denominadas Entidades Regionais de Turismo (ERT) com alguns Polos de Desenvolvimento Turístico. Rapidamente se verificou que a existência destes Polos não se justificava. Foram extintos e nesta altura, existem apenas as cinco ERT.

Este facto permitiu criar massa crítica para que o território fosse trabalhado para, não só criar produto, como criar destino devidamente estruturado.

Restava apenas contar com a dinâmica de quem assumisse a responsabilidade de pôr em marcha o trabalho estruturante inerente. Com mais ou menos dificuldade, lá se foi desenvolvendo o trabalho e mais uma vez os resultados estão à vista. Este sucesso não seria possível sem produtos e sem destinos estruturados.

Mas de todas as regiões criadas, gostaria de realçar o trabalho feito no Alentejo. Com um território de beleza impar com montanha, peneplanície e planície, bem conservado e com pouca intervenção do homem na sua descaracterização, com uma densidade populacional muito baixa e cidades bem ordenadas e com rico património. A oferta turística representava, até ao princípio do século, cerca de 3,5% da oferta total do País. E o que se fez?

  • Inventariaram-se os recursos que serviram para criar produtos turísticos que promoveram atractividade para o território.
  • Mobilizou-se a população, estruturou-se a oferta hoteleira e incentivou-se o investimento.
  • Com o apoio de uma equipa técnica dinâmica, liderada por alguém que sabia muito bem o que fazer e para onde queria ir, fizeram o seu trabalho com entusiasmo, dedicação e profissionalismo para termos agora o Alentejo como um destino turístico de eleição!


Quem hoje olha para o Alentejo Turístico vê o resultado de um trabalho exemplar e digno de registo. E vemos a repercussão internacional que este trabalho teve ao ponto de ser referenciado como um dos 12 melhores destinos a ser visitado durante 2014 em todo o mundo.

Parabéns ao Alentejo e às suas gentes que souberam interpretar muito bem o que havia a fazer para atingir os seus objectivos. E agora pretendem vir a ser o primeiro destino turístico do mundo a ser certificado e já começaram a trabalhar para isso.

Que as outras regiões ponham os olhos no Alentejo e vejam o bom trabalho que fizeram. Não valeria a pena adaptar esse trabalho às suas regiões?

O País agradecia!

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