Por Rui Soares Franco
ruioreysfranco@hotmail.com
Consultor em Turismo e Hotelaria
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O recente aumento da
procura turística nos principais centros urbanos portugueses, nomeadamente
Porto, Coimbra e Lisboa, levou-me a pensar o porquê deste boom e quais as suas causas e consequências.
A promoção turística
feita internacionalmente sobre os melhores destinos europeus para 2014, nos
quais incluía o Porto e Lisboa, criou certamente uma apetência muito grande por
estes destinos. Se aliarmos a este aspecto, o facto do aumento da oferta de
viagens low cost para Lisboa e Porto
e a possibilidade de alojamento barato no destino, estão criadas as condições
fundamentais para este incremento na procura.
Para tal situação,
contribuiu o chamado alojamento local (AL) criado aquando da alteração legislativa
de 2008 promovida pelo então Secretário de Estado do Turismo, Dr. Bernardo
Trindade. Todos os empreendimentos turísticos que não se convertessem em Hotel
ou Hotel Apartamento, caíam automaticamente no regime do Alojamento Local. Por outro
lado, quem quisesse oferecer alojamento, fosse quartos, apartamentos ou
moradias, poderia fazê-lo através da sua inscrição nesta modalidade junto das
Câmaras Municipais respectivas, através de um processo de licenciamento muito
simples, desde que cumprissem os requisitos mínimos para o fazerem.
Estas modalidades
poderiam, assim, ser comercializadas no mercado turístico, não podendo no
entanto utilizar na sua designação terminologia turística que permitisse a sua
confusão com os empreendimentos turísticos existentes. Digamos que funciona
como um "mercado paralelo" ao turístico mas legal e passível de ser
comercializado no mercado turístico incluindo as Agências de Viagens.
Assistiu-se, então, a um crescimento exponencial deste tipo de oferta onde se
vê de tudo: desde o muito bom ao muito mau. Por toda a parte surgem unidades de
AL, desde o Hostel até ao simples apartamento alugado dia-a-dia ao turista low cost para quem o turismo deixou de
ser “a visita do homem ao outro homem” e passou a ser apenas puro “consumo”. E
é aqui que tudo se desvirtua!
Mas o que me preocupa são
as consequências de tudo isto. Sou daquelas pessoas que não “embandeiram em
arco” com a situação mas apenas meditam nas consequências que esta implica.
Vem-me à memória os debates relacionados com o aumento da procura turística em
Portugal na década de 90, aquando da Guerra do Golfo, em que Portugal foi o
destino alternativo aos destinos turísticos da bacia do Mediterrâneo tendo
ganho à Espanha, onde a luta armada da ETA estava no seu auge, por questões de
segurança.
Nessa altura,
considerava-se que Portugal já não aguentava mais procura. Estávamos na fasquia
dos 22 milhões de entradas/ano e “este rectângulo à beira mar plantado” já não
suportava mais pressão. Era preciso não aumentar a procura, mas melhorar a
qualidade dos turistas que nos visitavam. Infra-estruturalmente, Portugal não
aguentava mais pressão sem correr o risco de entrar em rotura, como havia
acontecido em Benidorm ou Torremolinos e quase aconteceu em Albufeira. Foi necessário
proceder a trabalhos de engenharia civil utilizando a mais alta tecnologia para
recuperar uma situação de equilíbrio!
E Lisboa, Porto e
Coimbra? Irão aguentar este aumento exponencial de pressão sobre as suas
infra-estruturas? Será que vamos pagar um preço muito elevado a este nível?
Por outro lado, o aumento
do AL sobretudo nos centros históricos onde as alterações verificadas na sua
fruição, ao nível dos acessos e estacionamento afastaram moradores jovens e
envelheceram, por isso, a população residente, permitiu aumentar o número de pessoas
a circular e a fruir do espaço. Mas o turismo sofre influências de todo o tipo,
quer para aumentar quer para diminuir e se agora “está na moda” vir a Lisboa,
Porto e Coimbra, o que acontecerá quando passar de moda e baixar a procura ou
por qualquer motivo deixarem estas cidades de ser referência como destinos de
eleição?
Isto traz-me à memória o
que aconteceu em Sevilha na pós-Expo 92!
Não será certamente
nenhum destes cenários que queremos para as nossas cidades. Importa por isso
começar a encarar este fenómeno de forma sustentada e encontrar cenários
alternativos para todo este alojamento agora criado, desenvolvendo outro tipo
de mercados que permitam substituir o turístico, em situações de quebra da
procura, e assegurem a sua retoma quando a procura o justificar. O mercado
turístico é sazonal e por isso de altos e baixos e como actualmente se trata de
puro consumo, há que acautelar situações de flutuação.
Para mim uma coisa é
certa: a chegada de turistas não pode continuar a crescer desta maneira.
Portugal não é um destino de massificação. Não temos dimensão para um turismo
massificado. Temos sim que apostar no aumento da qualidade do turista que nos
procura e não será certamente desta forma, promovendo Portugal como um destino low cost, baseado na oferta de
alojamento local, por vezes com baixos padrões de qualidade, que se atingirá o
objectivo pretendido.
A quem tem de tomar
decisões nesta área, valerá a pena pensar nisto e adoptar as medidas certas que
não hipotequem todo o trabalho feito nesta área ao longo dos últimos 50 anos.
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