Nos últimos meses temos lido inúmeras notícias sobre o crédito habitação: os Bancos emprestam mais dinheiro, as taxas de juro descem, os Bancos abrem os cordões, o crédito está muito barato, etc., etc., etc.
Temos procurado fazer alguns retratos do crédito habitação em Portugal, aqui no blog. Aproveitei o fecho do 1º trimestre e os dados publicados pelo Banco de Portugal para fazer novo balanço. E, por isso mesmo, não entendo tanta excitação com o crédito habitação.
A realidade é esta: no 1º trimestre de 2015, o montante concedido de € 715 milhões está:
- 43% acima do valor registado em igual período de 2014;
- 50% acima da média do 1º trimestre dos anos de 2012-2014 (em pleno "período Troika");
- 40% abaixo da média dos últimos 6 anos;
- Mais de 80% abaixo dos máximos registados em 2006.
Além disso, o spread médio de mercado (medido pelo diferencial entre a taxa juro para novos créditos e a euribor a 3 meses) encontra-se perto de máximos históricos, num valor de 2,92 pontos percentuais.
Então, porquê tanta excitação?! O crédito à habitação mantém-se escasso e caro. É essa a realidade. Não é por vivermos numa conjuntura de mínimos históricos nos indexantes que o crédito passou a ser barato. Bem pelo contrário, os dados disponíveis mostram que se mantém caro, com o spread médio actual próximo de máximos históricos. Também não é pelo facto do montante concedido ter subido 40% que agora, de repente, a Banca abriu de novo a torneira do crédito. Como vimos, o valor registado no 1º trimestre deste ano está longe da média dos últimos anos e longe, bem longe de outros tempos. Além disso, o saldo global de crédito habitação mantém-se em queda, mantendo-se assim o processo de desalavancagem do sector.
A realidade é esta: esses outros tempos não voltam. Apesar da conjuntura extraordinária que vivemos actualmente, todos temos de nos habituar a viver com menos dívida, e mais cara.
Bons negócios (imobiliários)!
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Por Gonçalo Nascimento Rodrigues
Main Thinker
Managing Director
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