Se quiséssemos definir o que é o turismo poderíamos dizer que “Turismo é a visita do homem ao homem”. O conjunto das motivações que levam o homem a visitar o outro homem num determinado destino é o produto turístico desse destino. Se visito um destino por lazer, sou um turista de lazer, se o visito por motivos profissionais, sou um turista profissional, se o visito por motivos culturais, sou um turista cultural. No entanto, qualquer que seja a motivação da minha visita, esta tem sempre um pouco de motivação cultural quanto mais não seja pelo contacto entre pessoas onde existe sempre uma permuta cultural.
Daí que a cultura de um povo, identificação desse povo que se criou e desenvolveu num determinado território, configurado ao espaço e ao tempo, está sempre subjacente à visita turística que se faz a um determinado destino.
Vem isto a propósito da importância que a cultura tem não só como factor de atracção turística mas também como factor de desenvolvimento turístico de um determinado destino.
Tendo presente esta questão, não posso deixar de ficar surpreendido com a recente demissão do Prof. Dr. António Lamas de Presidente do CCB, não só pela forma pouco polida de que a mesma se revestiu, mas sobretudo pela perca do saber de um homem que já muito deu e ainda pode dar à cultura e ao turismo do País.
Como amante de Sintra e conhecedor do seu património, gostaria de recordar a forma como este homem interveio no património de Sintra e ao longo dos anos o foi recuperando. Desde aos palácios quase em ruínas, como é o caso do Palácio de Monserrate ou o Chalé da Condessa de Elba, até aos parques que os envolvem, pouco a pouco tudo foi recuperado ao mesmo tempo que montava uma operação de promoção e rentabilização desse mesmo património por forma a torná-lo auto-suficiente. Criou inclusivamente um sistema inovador de bilhética que permite a visita de mais do que um monumento a preços reduzidos e que funciona como factor promocional desses monumentos.
E os resultados estão à vista: aumento significativo da procura turística daquele destino (em oito anos mais que triplicou a procura, cifrando-se actualmente em cerca de 2 milhões de entradas) assim como a melhoria significativa do ordenamento turístico. E todos beneficiámos deste trabalho feito por quem conhece e sabe como juntar estas duas actividades. Actualmente, a Parques de Sintra Monte da Lua é auto-suficiente e desempenha um papel fundamental no desenvolvimento turístico do destino SINTRA.
A nomeação de António Lamas para a Presidência do CCB pretendia dar-lhe a oportunidade de aplicar a mesma fórmula, ao eixo Ajuda-Belém, com as necessárias adaptações, aproveitando a presença diária de tantos turistas naquela zona para se potenciarem outros monumentos e museus aí existentes e que tanto poderiam beneficiar com este esquema, tornando-se auto-sustentáveis como acontece actualmente com o Parques de Sintra Monte da Lua. Embora mais ambicioso (trata-se da zona monumental portuguesa mais visitada) todo o património beneficiaria, assim como os sectores da cultura e do turismo.
Num artigo recente no Jornal Público, José Manuel Fernandes critica o Ministro da Cultura por esta demissão e refere num PS final que: “O mundo da cultura, tão fervilhante no tempo das indignações à mínima unha encravada, está estranhamente silenciosa.” (Sic). Este comentário leva-me a pensar: E nós homens do Turismo não teremos também uma palavra a dizer? Não nos deveríamos revoltar com atitudes que levam a pôr em causa o futuro do nosso património?
Estamos numa época de grande crescimento da actividade turística no país, beneficiando da actual conjuntura e da procura crescente deste destino em detrimento de outros onde a segurança (actualmente o primeiro grande factor de selecção de destinos) está em risco. No entanto, temos que continuar a trabalhar para que se mantenha ou mesmo se melhore a atractividade do destino. Mas aquilo a que assistimos é precisamente o contrário. Afastam-se pessoas competentes a troco de argumentos nebulosos e pouco credíveis e de questões pouco transparentes. A troco de quê?
Creio que, a curto prazo, o sector não será muito afectado mas perde-se uma oportunidade de melhorar a nossa atractividade. A longo prazo logo se verá!
Já o sector da cultura irá certamente perder a oportunidade de tornar este património rentável e auto-suficiente e como português não posso deixar de me revoltar.
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Por Rui Soares Franco
Consultor Hotelaria e Turismo
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