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terça-feira, 22 de março de 2016

A torneira dos Bancos (ainda) pinga pouco

De há uns meses para cá, tem-se tornando costume ler e ouvir que a Banca Portuguesa está a "abrir a torneira do crédito", numa alusão a um maior relaxamento desta relativamente à concessão de crédito habitação. Nisto, como em tantas outras coisas, normalmente fico na dúvida e, por isso, refugio-me sempre nos números em busca de alguma explicação.

O Banco de Portugal fechou recentemente os dados relativos a 2015. No que respeita ao crédito habitação, verificamos então que a Banca em Portugal concedeu um total de € 4.013 milhões, montante que ficou 73,5% acima do registado em 2014, sendo inclusive já mais do dobro registado do registado em 2012.

Perante tamanha subida, não é realmente de estranhar que pensemos que a Banca abriu, de facto, a torneira. Ou será?

Olhando para o histórico do nosso mercado, rapidamente concluímos que estamos longe, muito longe de outros tempos. Não que se pense que lá voltaremos, mas daí até se afirmar que a Banca abriu a torneira...

No pico do mercado, a Banca concedia qualquer coisa como 2 mil milhões de euros em crédito por mês. MÊS! Em 2015, concedeu 4 mil milhões. Num ano inteiro! Portanto, estamos ainda longe, muito longe.

Dizer-se que o crédito à habitação cresceu mais de 70% em 2015, sem contextualizar historicamente o nosso mercado, é no mínimo intelectualmente desonesto, perdoem-me a expressão. O ano passado registou, de facto, um forte acréscimo nos montantes concedidos para financiamento de habitação em Portugal, mas a queda tinha sido muito grande, pelo que a base de comparação é tão baixa que serve apenas para isso: mera comparação.

A história recente mostra-nos 3 períodos distintos:
  • Expansionista. Até 2007, ano em que se registou um máximo histórico no mercado com quase 20 mil milhões de euros emprestados para compra de casa;
  • Retraccionista. Entre 2008 e 2010, após o rebentar da crise do subprime, com a Banca a baixar os volumes de crédito concedido mas, mesmo assim, a emprestar sempre em montantes próximos dos 10 mil milhões por ano;
  • Congelamento. Desde 2011, ano da assinatura do MoU, momento em que a Banca definitivamente cortou no crédito, tendo-se atingido um mínimo histórico abaixo dos 2 mil milhões em 2012.
A realidade é que estamos ainda dentro deste último período, de congelamento do crédito. Nos últimos meses temos vivido um período extraordinário de condições ultra-favoráveis à concessão de crédito por parte da Banca. Ainda muito recentemente, o Banco Central Europeu reviu as suas taxas directora e de refinanciamento, melhorando ainda mais essas condições. Ou seja, não há desculpas para a Banca não emprestar dinheiro à economia, imobiliário incluído.

Veremos se em 2016 sairemos desse período de congelamento do crédito e se, na realidade, as torneiras abrem definitivamente.

Aqui fica o gráfico com os números desde 2004:


Bons negócios (imobiliários)!

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Por Gonçalo Nascimento Rodrigues
Main Thinker, Out of the Box
Managing Director, OTBX

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