A crise económico-financeira trouxe consigo consequências nefastas para diversos mercados, tendo o do crédito habitação sido particularmente afetado. Foram longos os anos em que as instituições financeiras ficaram repletas de imóveis em decorrência de elevados valores de crédito malparado.
Os dados mais recentes do Banco de Portugal (BdP) não mentem: em junho do ano corrente, as novas operações de empréstimos a particulares para habitação cifraram-se em 587 Milhões de Euros, o valor mais elevado desde março de 2011. Estes valores acusam a continuação de uma tendência crescente no crédito habitação em Portugal, que já se vinha a verificar desde o ano 2015.
Importa então, à luz deste aumento, elencar alguns dos fatores que poderão estar por detrás do mesmo. Em primeiro lugar, e desde logo, é impossível não notar a influência da queda da EURIBOR. Desde que a mesma e as taxas de juro de referência do Banco Central Europeu (BCE) se encontram em terreno negativo que as prestações mensais dos créditos habitação dos particulares desceram.
Com a EURIBOR em mínimos históricos, mais propriamente em terreno negativo, desde o final do ano transato que os consumidores que possuem um crédito habitação com taxa variável pagam agora menos de prestação mensal. Desta forma, é normal que se gerem boas expetativas relativamente à compra de casa em Portugal.
São de salientar ainda as novas oportunidades criadas pela possibilidade de contratar um crédito habitação com taxa fixa. Na hora de solicitar um empréstimo para comprar casa numa instituição financeira, existem sempre muitos fatores a analisar para tomar uma boa decisão, nomeadamente: qual a que oferece a melhor taxa de juro, qual é o spread praticado, que seguros vêm associados, qual é o prazo mais adequado.
Enquanto a taxa variável, como o próprio nome indica, oscila consoante as flutuações das taxas de juro de referência no mercado, sendo indexada à EURIBOR, a taxa fixa, por sua vez, é contratada entre o cliente e o banco, mantendo-se inalterada ao longo de todo o período do empréstimo. Para os mais receosos quanto às incertezas do mercado, é uma opção que pode ser muito atrativa.
Outro dos fatores a considerar poderá prender-se com uma tendência proveniente, em grande parte, do investimento estrangeiro, de compra de habitação para futuro arrendamento e consequente geração de rendimento extra e estável - algo que se assume particularmente expressivo em Lisboa. O investimento no mercado imobiliário na capital tem vindo a crescer, acompanhado fortemente por um incremento do turismo.
Neste sentido, comprar uma casa para depois arrendar também se tornou numa possibilidade de investimento largamente difundida, proporcionada pela redução dos spreads praticados pelos bancos no crédito habitação que, por sua vez, foi provocada pela queda dos indexantes (tanto os de prazos mais curtos como os de prazos mais alargados). Isto indicia igualmente que os bancos têm facilitado o acesso ao crédito para compra de habitação.
Por fim, nada como o poder das expectativas alavancado a partir da melhoria dos indicadores económicos portugueses associados a uma recuperação moderada da atividade económica - o PIB português cresceu 0,3% no segundo trimestre do ano. A interligação de fatores que produz o aumento do crédito habitação é uma evidência que se aplica também à economia como um todo.
--
Este artigo é da autoria da equipa do ComparaJá.pt, a plataforma gratuita de simulação e agregação de produtos financeiros de referência em Portugal.
Sem comentários:
Enviar um comentário