Ultimamente, temos sido confrontados com excelentes notícias sobre o desempenho do turismo português. Aumento da procura, aumento das receitas, aumento da oferta de alojamento, com especial enfoque no alojamento local, aumento da oferta de emprego, aumento da oferta ao nível da animação turística, etc.
É claro que estas notícias são boas. Os vários destinos turísticos que se vão consolidando neste país começam a dar resultados e sobretudo a imagem de um destino low-cost atrai cada vez mais turistas.
Já em tempos escrevi um artigo sobre a preocupação que tinha relativamente ao aumento da procura turística e ao peso que este aumento, aliado ao da oferta do alojamento local, exercia nas infraestruturas urbanísticas, com o risco de se criarem situações de rotura. E esta preocupação mantém-se!
Mas neste momento, as notícias que surgem do aumento do alojamento local, com uma diminuição acentuada no mercado de arrendamento urbano, deixam-me também preocupado. E se tudo isto acabar? E se estivermos perante uma “bolha” no turismo? Que irá acontecer?
Em 2008 estivemos perante uma bolha no imobiliário com as consequências que todos conhecemos e só agora, passados 9 anos, começamos a sair dessa crise mundial. Foi uma crise económica com o sector imobiliário a estagnar por completo, tendo agora iniciado a sua recuperação.
Em Portugal esta estagnação do mercado imobiliário foi aproveitada para recuperar o mercado do arrendamento e aumentar a população residente nos centros históricos das grandes cidades, nomeadamente em Lisboa, Porto e Coimbra. Por outro lado, ajudou a implementar o alojamento local através da simplificação dos licenciamentos.
Os proprietários viram neste aumento significativo da procura turística uma oportunidade para obter uma maior remuneração do seu património, o que efectivamente é uma aspiração legítima. No entanto, verificou-se que nos centros das grandes cidades muitos senhorios tentaram “despejar” os seus inquilinos para poderem inscrever as casas nesta modalidade de alojamento turístico. Só que este facto levou à substituição de uma população fixa por outra “móvel”, provocando uma certa desertificação dos centros das cidades. Os tempos mudam e as situações mudam também. No entanto, o que me preocupa é o que irá acontecer se esta tendência mudar também.
O mercado turístico é muito fluido e sofre influências de todo o tipo. Portugal sempre foi um destino muito seguro. Sempre ganhou nesta área cada vez mais importante para os turistas. No entanto, isto pode acabar. E pode acabar de um dia para o outro. É por isso que levanto esta questão: Estaremos perante uma “bolha” turística?
Sinceramente, acho que sim!
E acho que sim porque se houver qualquer alteração deste mercado, sobretudo por motivos de segurança, vamos ter uma recessão inimaginável. Caindo o mercado, cai a procura de alojamento, não só no alojamento local, mas também nos empreendimentos turísticos. Só que estes têm outras defesas. É um mercado mais estruturado economicamente, mais sustentável que o mercado do alojamento local. Este depende de uma clientela com menor poder económico. E desaparecendo grande parte deste mercado, o que acontecerá a todas as casas inscritas? A retoma do imobiliário é um facto e os preços estão a aumentar o que irá dificultar o ressurgimento do mercado de aluguer. Este facto faz com que os proprietários venham a ter bastantes dificuldades em alugar as suas casas no mercado tradicional e a desertificação dos grandes centros urbanos de Lisboa, Porto e Coimbra será uma realidade e de difícil recuperação.
E a Hotelaria? Embora com mais “defesa” não deixará de conhecer a crise. Também esta oferta aumentou substancialmente sobretudo ao nível dos 4 e 5 estrelas. Para além de poderem baixar os preços (deverá ser a última solução tendo em conta a máxima de que “nos preços não se mexe”) resta-lhes procurar outros mercados e cortar nas despesas sobretudo na “mão-de-obra”.
Recentemente foi publicada a notícia de que o turismo representa 1/3 dos novos postos de trabalho criados em 2016. Muitos destes postos de trabalho irão deixar de existir. Muitas empresas de animação também desaparecerão. E estaremos então perante o rebentar da “bolha”. É este o meu receio e é importante que os agentes envolvidos se preocupem com esta situação, tornando o negócio mais sustentável. Temos que ser criativos e encontrar soluções que permitam precaver estas situações para que, se a bolha existir, quando rebentar possa causar o menor prejuízo possível.
No entanto, trata-se apenas de um alerta para a necessidade de os agentes turísticos se precaverem contra esta situação. Se tudo se mantiver como até agora, se não houver nada que ponha em causa a segurança do País, não creio que a tendência possa mudar sobretudo porque os destinos que perderam mercado para Portugal vão levar ainda bastante tempo a recuperar uma imagem de segurança. A procura manter-se-à sobretudo se tivermos o cuidado de não aumentar muito os preços, querendo ganhar tudo num ano. Diz o ditado que “quem tudo quer tudo perde”.
No entanto, não posso, em consciência, deixar de partilhar esta minha preocupação.
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Por Rui Soares Franco
Consultor Turismo & Hotelaria
Nota: Por vontade expressa, o autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.
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