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sábado, 7 de fevereiro de 2009

PENSAR FORA DA CAIXA - I

Repensar a Consultoria Imobiliária

Os mercados imobiliários sofreram profundas alterações nos últimos meses. Todos estávamos habituados a alavancar – o mais possível – um investimento imobiliário. A alavancagem era regra, era saudável e potenciava o retorno do equity investido. A teoria financeira diz-nos isso – no limite, o meu Return on Equity é infinito se conseguir uma alavancagem de 100%. A prática confirmou-nos isso também mas a dura realidade de hoje mostra-nos que sem debt, dificilmente haverá investimento e promoção imobiliária.

Um sector que muito beneficiou, lucrou e se desenvolveu à custa deste paradigma foi o sector da Consultoria Imobiliária – não confundir com mediação imobiliária, por favor. Asset Sale & Leaseback, parcerias financeiras, montagem de fundos de investimento fechados e outros serviços foram prestados e montados por este sector para os seus clientes, sempre no pressuposto que a dívida existia e estava quase garantida.


Hoje não é assim. E por isso temos de ser capazes de inovar. Inovar no serviço prestado e na forma como se podem montar investimentos imobiliários.

Se antes transaccionar um imóvel ou um projecto imobiliário era simples porque havia possibilidade de recurso à dívida, hoje isso já não é mais verdade, pelo menos não o vai ser no curto prazo. Nesse caso o que fazer?

Durante os últimos meses, o mercado tem observado um acréscimo nas actividades não-transaccionais, por contraponto do decréscimo nas actividades transaccionais. Isto é algo que provavelmente se manterá nos próximos tempos mas, mais tarde ou mais cedo, teremos de voltar a olhar para o mercado de transacções e pensar como as executar sem ou com menos dívida. Haverá com certeza proprietários interessados e necessitados em vender e o mercado de equity continua e continuará a existir.

Mas manter este estado de coisas levará a que a componente de serviços não transaccional tenha também de evoluir: sermos capazes de compreender bem as envolventes macro e micro-económicas e as implicações que têm no valor de um imóvel é crucial.

Então o que e como fazer?

A Consultoria Imobiliária deve evoluir. Deve adaptar-se aos novos tempos e ser capaz de prestar um serviço de excelência e de qualidade. Deverá rapidamente adaptar-se e tornar-se num serviço de corporate finance especializado no sector imobiliário. O mercado deverá incorporar fortes capabilities financeiras e um elevado expertise em imobiliário. A junção destas duas vertentes será um primeiro e forte passo para este sector se adaptar às constantes mudanças no mercado imobiliário.

Estas alterações terão, forçosamente, consequências nas áreas de avaliação, research, estudos, análise de investimentos e investment services. Numa próxima oportunidade procurarei explicar como cada um destes serviços se deve adaptar à nova realidade do mercado.

Bons negócios (imobiliários)!

9 comentários:

Rui Ávila disse...

é de facto necessário passar a olhar atentamente para a componene de dívida nas transacções e encontrar o verdadeiro "value for money" nos produtos transaccionáveis. Novas formas de transacção vão ser necessárias, que sejam mais suportáveis pelos EBT das empresas e das famílias. "No more credit" parece estar na origem da crise, mas vai ser provavelmente causa de uma recuperação estrutural da economia, em razão da necessidade de encontrar forma de chegar a negócios rentáveis com níveis de endividamento saudáveis.
Rui d'Ávila

Anónimo disse...

Meu Caro GNR,

Concordo totalmente contigo. Acrescentaria ainda que o novo paradigma será muito mais baseado nas parcerias estratégicas e nas soluções para-imobiliárias. A simples compra e venda será, em minha opinião, progressivamente ultrapassada por soluções mais financeiras que imobiliárias.

Boa Sorte e Parabéns pela iniciativa

Unknown disse...

Parabéns a ambos pela criação deste blog que, pessoalmente, considero a extensão natural (necessária?), da vossa excelente "newsletter".
Penso que bem cedo este se converterá num "forum" de troca de ideias relativamente a mercados imobiliários e financeiros; por outras palavras um "think pool" de onde resultarão, por certo, novos rumos e conceitos cuja valia fará jus á mestria e capacidade de inovação dos seus intervenientes.

Uma vez mais os meus parabéns e... "keep up the good work"...;)

Anónimo disse...

É necessário, antes, perceber qual o objectivo de análise de um investimento imobiliário. Uma grande parte das empresas de consultoria imobiliária direcciona-se para o crédito hipotecário, cuja análise do crédito é ignorada e, por conseguinte, todo o impacto que o financiamento pode gerar, sendo, somente, considerada a componente equity do investimento, ou seja, só é contemplada a análise do mercado imobiliário. A mesma análise é aplicada para os restantes segmentos: Fundos de Investimento Imobiliário, Avaliações Patrimoniais, Situações Particulares... No entanto, questiona-se: será que o mercado imobiliário inclui o financiamento? Acredito que a situação, aqui, constatada faz todo o sentido de ser aplicada nas situações em que um potencial cliente solicite a análise das duas componentes, isto é, a análise total do negócio/investimento. Contudo, face à questão colocada, a situação, aqui, constatada é assaz premente...

Anónimo disse...

Olhando para os comentários já aqui colocados, parece-me justo referir o seguinte:

- Antes de mais, agradecer ao "Luís" (aposto ser o Prof. Luís Oliveira) pelas palavras amigas e encorajadoras. Foi o único comentário "não-técnico" que publicamos (todos os restantes, agradecemos mas não os publicamos) com o único propósito de prestar aqui um agradecimento público a um excelente professor e homem de enormes qualidade pessoais. E, como se prova pela mensagem, está sempre um passo à frente. Obrigado Prof.!
- Aquilo que o Covas refere como soluções para-imobiliárias - se bem entendi - parece-me fazer todo o sentido. Há que olhar fora da caixa e ver o que anda à volta de um imóvel. Não é necessário comprar e vender um imóvel para prestar um serviço e/ou fazer uma transacção;
- O Engº Rui Ávila (grande abraço!) foca bem a importância da alavancagem - a importância que teve e que ainda tem. Há que relembrar o fortíssimo processo de desalavancagem que atravessamos e perceber como podemos fazer investimentos com um nível mais saudável de debt. O equity existe, está lá, só está talvez mais selectivo a perceber onde está o real "value for money". Também no imobiliário vamos ter de olhar para investimentos com rendibilidades um pouco mais baixas, fruto de menor alavancagem mas, com certeza, com menos risco;
- Quanto ao comentário do colega João, há que distinguir a avaliação do crédito hipotecário - que refira-se, o João tem muitíssima mais experiência que eu, logo há que prestar bem atenção ao seu comentário - das restantes avaliações. Efectivamente, no 1º caso parece-me que não se leva em consideração a componente debt, é uma avaliação na óptica de mercado. Um assunto claramente a reflectir, como devem os bancos encomendar as avaliações para repercutir o valor e o risco da dívida na valorização do imóvel. E será que estão dispostos a pagar por isso? Nas restantes situações, parece-me que o mesmo já não se passa e por isso mesmo coloquei a figura em cima do artigo. A componente dívida estará expressa ou no WACC (se usar o FCFF) ou no CFE (usando aqui uma Rel para actualizaros cash-flows).

Um abraço a todos e voltarei a comentar quando se justifique.

Bons negócios (imobiliários)!

Anónimo disse...

Caro Gonçalo:

Infelizmente, nos restantes tipos/objectivos de avaliação, a componente debt de um determinado investimento imobiliárionão é, ainda, considerada. Face à questão colocada no meu comentário (será que o mercado imobiliário inclui o financiamento?), o assunto do teu post é assaz premente.

Anónimo disse...

Caro João,

Não sei se entendi bem a pergunta mas cá vai: se o mercado imobiliário inclui ou tem incorporado na sua valorização a componente debt, diria que sim. Isso aliás percebe-se das recentes correcções mundiais que são resultado de uma desalavancagem do mercado.

Os preços do imobiliário foram impulsionados nos últimos anos devido a fortíssimas alavancagens e à "socialização" da dívida. Agora que ela é mais restrita, isso naturalmente coloca maior pressão sobre os preços devido a uma menor procura (para uma oferta que vinha a crescer demasiadamente).

Assim sendo, é a componente debt o principal driver do mercado hoje e por isso mesmo é que devemos estar preparados para lidar com ela, mais do que estar preparados para lidar com o subjacente (o imóvel).

Em conclusão, diria que sim, a componente debt está presente no mercado e faz-se sentir (e de que maneira!).

Anónimo disse...

Caro Gonçalo:

Estamos em sintonia...

Anónimo disse...

Gonçalo,
sobre este primeiro pensamento, mas também sobre o segundo, acrescento de que as actuais e futuras condições do mercado (principalmente como se chegou a elas, ou seja, as suas causas) vão de facto obrigar a toda uma nova visão e abordagem: mais séria, fundamentada, competente e verificável/auditável. De facto, toda esta crise tem uma vantagem: se deixarem funcionar as coisas, haverá que como uma espécie de selecção natural, ou seja, sobreviverão os mais fortes, os mais bem preparados. A questão é se vão deixar funcionar as coisas? Veja-se a evolução da valorização dos FII "abertos"...
Abraço,
Ricardo Amantes