«Poderão as avaliações imobiliárias ser consideradas fiáveis e credíveis? Em 2009, 80% apresentaram um diferencial entre valor de avaliação e preço de venda não superior a 10%.»
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O presente artigo pretende explorar algumas questões pertinentes e elementares em torno das avaliações de activos imobiliários: Poderão as avaliações imobiliárias, realizadas em Portugal, ser consideradas fiáveis e credíveis? Será que prevêem os preços de venda?
Sendo a avaliação a cotação do activo imobiliário, é fundamental obter uma resposta para as questões colocadas. Neste sentido, desenvolvemos um pequeno exercício no qual avaliámos a qualidade e fiabilidade das avaliações imobiliárias em Portugal, tendo por base, única e exclusivamente, a informação reportada por investidores participantes na base de dados do IPD em Portugal ao longo dos últimos 10 anos. A amostra tida em consideração incluiu 178 transacções, com um valor global a rondar os € 1,6 mil milhões.
De um modo simples, o estudo consistiu em estabelecer um paralelo entre o valor de alienação dos activos, e o seu valor de avaliação no final do ano anterior, ajustado com base nas (1) despesas de capital líquidas registadas no período decorrido entre o momento de avaliação e transacção do activo, e (2) valorização de capital do segmento de mercado em que o activo se insere, ajustada para o mesmo período de tempo.
De acordo com os últimos resultados apurados, em 2008 e 2009, conclui-se que 89% e 80% das transacções registadas pelo IPD Portugal, respectivamente, apresentaram um diferencial entre valor de venda e valor de avaliação ajustado não superior a 10% em termos absolutos (i.e. compreendido entre um intervalo de -10% e +10%). Este resultado remete-nos para o reforço da exactidão das avaliações imobiliárias em Portugal, quando comparado com anos anteriores.
De um modo simples, o estudo consistiu em estabelecer um paralelo entre o valor de alienação dos activos, e o seu valor de avaliação no final do ano anterior, ajustado com base nas (1) despesas de capital líquidas registadas no período decorrido entre o momento de avaliação e transacção do activo, e (2) valorização de capital do segmento de mercado em que o activo se insere, ajustada para o mesmo período de tempo.
De acordo com os últimos resultados apurados, em 2008 e 2009, conclui-se que 89% e 80% das transacções registadas pelo IPD Portugal, respectivamente, apresentaram um diferencial entre valor de venda e valor de avaliação ajustado não superior a 10% em termos absolutos (i.e. compreendido entre um intervalo de -10% e +10%). Este resultado remete-nos para o reforço da exactidão das avaliações imobiliárias em Portugal, quando comparado com anos anteriores.
Contudo, se em períodos de maior dificuldade, como 2008 e 2009, em que o Índice de investimento imobiliário IPD Portugal registou as menores rentabilidades da sua série histórica de 10 anos, é visível uma maior aproximação entre valor de avaliação e transacção.
Em anos anteriores, quando os investidores detinham maior liquidez, e as suas performances tinham com principal driver a componente valorização de capital, o avaliador, com uma atitude conservadora, ficou mais distante do valor de transacção. No período 2004-2007, apenas 53% das transacções evidenciaram um diferencial entre valor de venda e avaliação ajustada compreendido entre o intervalo de -10% e +10%, sendo que aproximadamente 60% das transacções foram realizadas por valores superiores aos da avaliação.
Regressando a 2009, é interessante notar que 73% das transacções foram efectuadas por valores inferiores ao da avaliação ajustada, o que poderá ser considerado como reflexo natural das actuais condições de mercado, com alguns dos investidores a evidenciarem necessidade de vender e gerar liquidez, ainda que isso tenha representado assumir menos-valias nas transacções levadas a cabo.
Em termos gerais, a análise agregada 2000-2009 fornece-nos indicadores positivos quanto à capacidade do perito avaliador projectar na avaliação, o valor de transacção do activo, visto que em cerca de 70% dos casos, a diferença entre valor de venda e avaliação ajustada está compreendida no intervalo entre -10% e +10%, e 80% no intervalo entre -15% e +15%. Ainda assim, é visível a existência de alguns erros individuais de avaliação.
Regressando a 2009, é interessante notar que 73% das transacções foram efectuadas por valores inferiores ao da avaliação ajustada, o que poderá ser considerado como reflexo natural das actuais condições de mercado, com alguns dos investidores a evidenciarem necessidade de vender e gerar liquidez, ainda que isso tenha representado assumir menos-valias nas transacções levadas a cabo.
Em termos gerais, a análise agregada 2000-2009 fornece-nos indicadores positivos quanto à capacidade do perito avaliador projectar na avaliação, o valor de transacção do activo, visto que em cerca de 70% dos casos, a diferença entre valor de venda e avaliação ajustada está compreendida no intervalo entre -10% e +10%, e 80% no intervalo entre -15% e +15%. Ainda assim, é visível a existência de alguns erros individuais de avaliação.
8 comentários:
Nem tudo é assim tão mau no sector imobiliário em Portugal. Espero que esta crise sirva de lição para haver equilíbrio entre o valor do imóvel, dado pelos métodos de avaliação e o valor que o mercado está disponível a dar pelo mesmo imóvel e, que esses 10 % diminuam. A especulação tem assim menos margem de manobra para marcar o ritmo do mercado.
Eu que sou tão crítico do nosso mercado de avaliações, confesso que fiquei surpreso com estes dados do IPD. Esperava um gap muito maior entre valor de avaliação e valor de transacção. Esperava, mesmo, que os valores de avaliação estivessem acima dos valores de transacção, principalmente nos últimos 18 a 24 meses.
No entanto, gostaria de ter noção do peso que estas avaliações e transacções têm no mercado. Qual é a sua representatividade? E quando foram realizadas? E os imóveis estavam em carteira há quanto tempo?
Em resumo estão compreendidos num intervalo de 20% os valores reais de transacção dos imóveis e os valores de avaliação. Julgo que seria interessante para além da análise efectiva do diferencial entre o valor da totalidade das avaliações e as informações disponíveis sobre os valores de transacção, apurar qual a prestação individual das empresas de avaliação mais representativas do mercado, uma vez que existem empresas mais ou menos conservadores, e que a dimensão das suas avenças com a banca influencia directamente as estatísticas realizadas e influencia a banca directamente em relação à estimação do risco associado aos activos imobiliários. Julgo que não é despropositado afirmar que as empresas de avaliação mais representativas condicionam o valor dos imóveis e também considero ser legítimo levantar a seguinte questão: Será que quanto maior a dimensão da empresa maior será a tendência para o conservadorismo, por uma questão de autopreservação...Em caso afirmativo como estimar o impacto desta atitude na actual conjuntura?
Nuno,
Julgo que o IPD não compila dados da Banca, antes de Investidores Institucionais, na sua maioria, Fundos de Investimento Imobiliário.
As avaliações bancárias são outro campeonato...
Miguel, Nuno e Gonçalo, obrigado pelos vossos comentários.
Nuno,
Aproveitando o comentário anterior do Gonçalo, gostaria de confirmar que o IPD não compila dados de avaliações bancárias, mas sim, de avaliações de imóveis junto de investidores institucionais (Fundos investimento imobiliário, de pensões, sociedades imobiliárias, entre outros).
Gonçalo,
De facto, a amostra tida em consideração para o apuramento dos valores de 2009 é relativamente reduzida (estamos a falar de um universo de 15 alienações registadas na base de dados do IPD em 2009, com um valor a rondar os 170 milhões de euros). Ainda assim, creio que apesar de reduzida, a amostra acaba por reflectir a dinâmica do nosso mercado imobiliário de investimento institucional (uma total escassez de transacções), para mais tendo sido o ano de 2009 considerado como um dos menos dinâmicos (ou o menos dinâmico) da última década no que respeita a investimento realizado.
Seguindo ainda o teu comentário, os dados confirmam de certo modo as tuas expectativas: em 2009, 73% dos casos os activos foram alienados por valores inferiores aos da sua avaliação.
Luís,
Obrigado pelos esclarecimentos. São importantes e desde já agradeço ao IPD Portugal disponibilizar esta informação.
Confirma-se pois a (1) menor liquidez do mercado, (2) menos investimentos e (3) maior margem de negociação, face a (4) valores históricos de avaliação.
Com o devido respeito pelos autores do trabalho realizado, não passa de um exercício teórico desajustado da realidade do mercado imobiliário nacional, em particular do "sub-mercado" dos investidores institucionais. De seguida justifico a crítica: Poderia avaliar-se a «fiabilidade» e a «credibilidade» das avaliações pelo desfasamento entre estas e o valor de transacção se as avaliações fossem feitas com independência, isto é, sem ingerências do investidor institucional requerente das avaliações. Na prática, muito frequentemente, as avaliações são feitas quando o negócio já está feito, sendo as mesmas “ajustadas” ao valor pelo qual o negócio será concretizado pelo investidor institucional. Assim, não é de todo surpreendente que exista um desfasamento pequeno entre as avaliações e o valor das transacções em Portugal.
Mais uma vez, peço a atenção de todos para se identificarem nos comentários!
Sobre a credibilidade e fiabilidade das avaliações, nada a dizer. Quem me conhece sabe bem que sou altamente crítico de muitos trabalhos que são feitos no nosso mercado.
Mas o valor de transacção, ou seja, o preço, esse é que não entendo como pode ser pouco credível ou pouco fiável. Se há coisa certa, é o preço!
Julgo eu que esta estatística compila o valor do activo inscrito nas contas dos investidores - que resultam das avaliações - e os valores de transacção. Não se trata da comparação entre o valor de venda e a última avaliação feita para o efeito.
Se assim for... aí também sou capaz de colocar alguma coisa em questão...
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