Por Bruno Silva
Associate, Head of Property & Asset Management
Cushman & Wakefield
--
A Europa dos aflitos está à venda. Não uma venda racionalmente ideal, estratégica, geradora de novos investimentos. Mas uma venda a saldo, desesperada tentativa de emagrecer os monstros que sucessivos governantes alimentaram, sem nunca refrear. Afinal, alguém com nome de pensador disse “as dívidas não se pagam”, lembram-se? Pois, mas vão ter mesmo de pagar.
Grande parte desse esforço já nos toca a nós, é certo. Anos e anos de austeridade, de cortes salariais, agravamento de impostos, redução de pensões, fragilidade laboral, desemprego e novos pobres. Ainda assim, não chegamos lá. Portugal sempre se esmifrou para acompanhar as modas. Também aqui vai ter de acompanhar os outros PIGS e vender as suas joias, tão magros já estão os nossos dedos.
As privatizações de ativos estratégicos, ao virar da esquina, são o caminho natural (fácil?) a seguir. Mas existem outros caminhos a considerar que poderão permitir ao Estado captar investimento estrangeiro, designadamente no sector imobiliário.
Um deles, seria a requalificação de edifícios devolutos através de inventivos fiscais que fizessem, objetivamente, a diferença face a alternativas de investimento noutros países. Entre termos menos receitas mas uma malha urbana regenerada ou continuarmos à espera que prédios inteiros caiam por incapacidade do estado criar condições que permitam colocá-los de forma competitiva no mercado internacional, não me parece difícil a escolha.
Agora, ponham-se na pele de um investidor que olhe para estes países e analisem as opções:
Grécia: Eleições ao virar da esquina. Políticos esbofeteiam-se em direto na TV. Aventura do Euro? Game over. Se até os Gregos estão a tirar de lá o seu dinheiro, por que raio iria eu por lá o meu?
Itália: “Decreto de crescimento” prevê a alienação de 10 mil milhões de ativos estatais. Apesar da ameaça de risco sistémico e da crise da dívida soberana, a Itália continua sendo reconhecida como um país onde o endividamento das famílias é relativamente baixo e onde se fazem muitos e bons negócios. Se a coisa correr mal, ao menos vou em grande estilo…
Espanha: O último relatório do FMI diz que “a economia está em plena recessão, com uma recaída sem precedentes, com o desemprego em níveis já inaceitáveis, a dívida pública já a aumentar rapidamente e segmentos do sector financeiro com necessidades de recapitulação”. “No entanto, há potencial para uma melhoria, sendo o apoio da zona euro ao sector financeiro uma oportunidade para completar essa tarefa”. Os bancos fomentaram a crise, muito pelo imobiliário. Já me enganaram o suficiente; não contem comigo para tapar o buraco dos bancos.
Portugal: Se não for europeu, posso sempre comprar a minha entrada por 750K€. Não está mal… mas se até o empresário Figo, ex-internacional das quinas, diz que não tem vontade de investir em Portugal, país em que “há sempre alguma coisa que dificulta e que cria má imagem; dá-me vontade de não ter nada aqui”. Bem…
O esforço que tem sido feito, vai tapando uns buracos aqui e acolá. Mas tanta austeridade e sacrifício não trarão crescimento económico se continuarmos a asfixiar a economia. Se não morrermos do mal, corremos o sério risco de morrer da cura. Neste momento, parece mesmo é que nos encontramos todos “Fora de jogo”.
Associate, Head of Property & Asset Management
Cushman & Wakefield
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A Europa dos aflitos está à venda. Não uma venda racionalmente ideal, estratégica, geradora de novos investimentos. Mas uma venda a saldo, desesperada tentativa de emagrecer os monstros que sucessivos governantes alimentaram, sem nunca refrear. Afinal, alguém com nome de pensador disse “as dívidas não se pagam”, lembram-se? Pois, mas vão ter mesmo de pagar.
Grande parte desse esforço já nos toca a nós, é certo. Anos e anos de austeridade, de cortes salariais, agravamento de impostos, redução de pensões, fragilidade laboral, desemprego e novos pobres. Ainda assim, não chegamos lá. Portugal sempre se esmifrou para acompanhar as modas. Também aqui vai ter de acompanhar os outros PIGS e vender as suas joias, tão magros já estão os nossos dedos.
As privatizações de ativos estratégicos, ao virar da esquina, são o caminho natural (fácil?) a seguir. Mas existem outros caminhos a considerar que poderão permitir ao Estado captar investimento estrangeiro, designadamente no sector imobiliário.
Um deles, seria a requalificação de edifícios devolutos através de inventivos fiscais que fizessem, objetivamente, a diferença face a alternativas de investimento noutros países. Entre termos menos receitas mas uma malha urbana regenerada ou continuarmos à espera que prédios inteiros caiam por incapacidade do estado criar condições que permitam colocá-los de forma competitiva no mercado internacional, não me parece difícil a escolha.
Agora, ponham-se na pele de um investidor que olhe para estes países e analisem as opções:
Grécia: Eleições ao virar da esquina. Políticos esbofeteiam-se em direto na TV. Aventura do Euro? Game over. Se até os Gregos estão a tirar de lá o seu dinheiro, por que raio iria eu por lá o meu?
Itália: “Decreto de crescimento” prevê a alienação de 10 mil milhões de ativos estatais. Apesar da ameaça de risco sistémico e da crise da dívida soberana, a Itália continua sendo reconhecida como um país onde o endividamento das famílias é relativamente baixo e onde se fazem muitos e bons negócios. Se a coisa correr mal, ao menos vou em grande estilo…
Espanha: O último relatório do FMI diz que “a economia está em plena recessão, com uma recaída sem precedentes, com o desemprego em níveis já inaceitáveis, a dívida pública já a aumentar rapidamente e segmentos do sector financeiro com necessidades de recapitulação”. “No entanto, há potencial para uma melhoria, sendo o apoio da zona euro ao sector financeiro uma oportunidade para completar essa tarefa”. Os bancos fomentaram a crise, muito pelo imobiliário. Já me enganaram o suficiente; não contem comigo para tapar o buraco dos bancos.
Portugal: Se não for europeu, posso sempre comprar a minha entrada por 750K€. Não está mal… mas se até o empresário Figo, ex-internacional das quinas, diz que não tem vontade de investir em Portugal, país em que “há sempre alguma coisa que dificulta e que cria má imagem; dá-me vontade de não ter nada aqui”. Bem…
O esforço que tem sido feito, vai tapando uns buracos aqui e acolá. Mas tanta austeridade e sacrifício não trarão crescimento económico se continuarmos a asfixiar a economia. Se não morrermos do mal, corremos o sério risco de morrer da cura. Neste momento, parece mesmo é que nos encontramos todos “Fora de jogo”.
1 comentário:
Parabéns pelo artigo. Muito Verdadeiro.
Um abraço
João Garcia Barreto
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