Por Rui Bexiga Vale
Arquitecto - owner of rbv.arq
Ah... o
Brasil. De país exótico a país adiado e agora a país de futuro, o Brasil está
debaixo do radar de todos nós: promotores, investidores, projectistas e
construtores, atraídos pelo seu crescimento e concomitantes oportunidades de
trabalho, negócio ou ambos. Como bem já referiu o Gonçalo no seu post “Os 7 Magníficos”, São Paulo é uma das mais vibrantes metrópoles do mundo em termos
de imobiliário.
Só que o
Brasil encerra especificidades demasiado evidentes que requerem uma enorme
atenção para quem estiver pensando em atravessar o Atlântico para Sul. Da minha
experiência destaco desde já algumas:
a) A língua. Não é a mesma, ao contrário do que possam
pensar. Apenas facilita a comunicação, porque há que levar a cabo um esforço de
entendimento mútuo dado que muitas palavras, expressões e termos técnicos
revestem-se de significados diferentes ou mesmo novos;
b) A burocracia. Para quem como eu pensava que a legislação
portuguesa era o “Nec plus ultra” da complicação, pois bem, meus caros, o
Brasil suplanta! As instâncias de aprovação de projectos são múltiplas,
variadas, sobreponentes e antagónicas, nalguns casos;
c) Os preços. Quem pensa que no Brasil o ouro cresce nas
árvores, desengane-se. Os projectos são remunerados a valores bem próximos dos
de cá, alguns inferiores, mas há trabalho!
d) Os processos de
investimento. A cadeia de valor é extensa e o processo de decisão pode ser
complicado e lento. Um projecto pode começar com um promotor que identifica uma
oportunidade de negócio (normalmente um terreno), envolve o proprietário, junta
um ou vários investidores, pede um estudo para validar a plausibilidade e só
depois de todas estas condições estarem reunidas é que o processo avança.
Adivinharam se entenderam que o projectista só começa a receber, na maior parte
das vezes, se o processo avançar. Até lá é esforço de trabalho e custos;
e) Os técnicos. A razão pela qual os Portugueses são bem-vindos
no Brasil prende-se, na minha opinião, com a falta gritante de quadros técnicos
com a experiência necessária para levar a cabo as hercúleas tarefas com que
essa Nação se debate. Numa empresa de consultoria normal os partners tem 60-65
anos e os directores/operacionais 30-35 anos, ou seja, há um “gap” geracional de
30 anos que são exactamente os profissionais que têm essa experiência necessária
e que nós podemos preencher. Notem que referi “experiência” apenas, porque há
muita qualidade por lá. Mesmo!
f) O proteccionismo. Dado que
o Brasil é mesmo uma superpotência, eles blindam o mais possível a
entrada de elementos (pessoas ou empresas) que possam entrar em natural
concorrência com os Brasileiros. Dito de outra forma: se formos para trabalhar
com eles, recebem-nos mesmo de braços abertos. Mas se formos para concorrer com
eles, estamos apeados logo nas primeiras movimentações.
g) O tamanho. Com
uma dimensão equivalente à Europa e 250 milhões de habitantes, 83% dos quais
vivendo em cidades, poder-se-ia pensar que é um Eldorado gigante. Mas atenção.
Do que me foi dado constatar, o Brasil está a crescer essencialmente em dois pólos:
o eixo São Paulo-Rio de Janeiro e o Nordeste. Por isso, tem atraído tanto
interesse. No entanto, há muito por fazer em todo o Brasil, obrigando a um
esforço gigantesco de investimento em pessoal e deslocações, apenas para detectar eventuais oportunidades;
h) Os impostos e o repatriamento dos honorários. O Brasil
possui um quadro fiscal que é singularmente complicado (vide b-burocracia
acima) e que se reflecte nos custos para se receberem os honorários devidos
pelas prestações de serviços. Não é moroso, notem, mas é complicado e caro.
Na minha
opinião, a estratégia adequada passa por (i) identificar um parceiro local
credível, profissional e pessoalmente falando, (ii) estabelecer uma parceria
para o desenvolvimento dos projectos, (iii) estar em permanente contacto com
esse parceiro (quem inventou o Skype e o Dropbox merecia ser canonizado), (iv) ir lá muitas
vezes e conhecer todos os envolvidos e (v) trabalhar, confiar, investir e
continuar.
Dá trabalho? Dá. Mas só no dicionário é que "sucesso" vem
antes do "trabalho". Ah, e "dinheiro" também!
3 comentários:
Boa síntese, no entanto, discordo completamente da alínea a. Desenvolvo projectos no Brasil há alguns anos, não no sector imobiliário, e a língua é uma grande mais-valia que nós temos face a profissionais e empresas de outros países, sobretudo porque os brasileiros, na generalidade, não têm boas bases de outras línguas. A língua, com todas as diferenças, é a mesma. A cultura é que é outra e pode demorar a conhecer.
Artigo excelente, que realmente se alinha com a realidade brasileira. Como brasileiro posso assegurar que a área técnica é a que mais carece de profissionais.
Também gostei bastante do artigo. Dá-nos um insight rápido, fácil mas poderoso do que nos pode esperar ao tentar trabalhar no Brasil.
Obrigado Rui!
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