menu

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

De mão estendida e punho cerrado

Por Gonçalo Nascimento Rodrigues
Out of the Box
Main Thinker

OTBX, Consultoria em Finanças Imobiliárias, Lda.
Managing Director






--

Estes 40 anos de democracia, e os últimos 3 de austeridade e assistência financeira, trouxeram ao de cima um hábito muito nosso que está muito enraizado na nossa sociedade e economia: a subsídio-dependência.

Se pensarmos com calma, é toda uma geração que se habituou a viver em dependência do Estado e de terceiros. Na prática, grande parte daquilo que nos rodeia foi/é subsidiado: a electricidade, a maternidade, a habitação (por via de juros bonificados), os medicamentos, as consultas hospitalares, o ensino, o desemprego, o emprego, e por aí fora.

É difícil desenraizar esta cultura. Pior que tudo, trava a iniciativa privada, limita a criatividade, o engenho e o risco de empreender. Muitos privados acham que é dever e obrigação do Estado ajudar, subsidiar, abrir portas, fazer campanhas, ir à frente. E muitas associações de interesse assim o defendem.

O problema nunca está na empresa que não investe, no empresário que não arrisca, no empregador que não cria postos de trabalho. O problema está sempre nos outros: é o Estado e a Banca que não criam linhas de crédito ao investimento; é o Estado que não investe em programas e campanhas de divulgação para que o empresário se possa dar a conhecer; é o Governo que não cria políticas de incentivo à criação de emprego.

Já é tempo de mudar este paradigma e forma de estar no mercado, nas empresas, nos negócios e nas associações. É que tão facilmente estendemos a mão para pedir o subsídio, para alguém nos facilitar a vida, como logo de seguida os esmurramos, torto e feio.

Vem isto a propósito, algumas declarações que tenho lido de dirigentes associativos no nosso mercado imobiliário. É ver e ouvir a Confederação Portuguesa da Construção e Imobiliário (CPCI) congratular-se com a mais recente iniciativa do Governo na área da Reabilitação Urbana, mas dizer que não chega (nunca chega!). É vê-los e ouvi-os, também, dizer que a culpa dos € 6 mil milhões de mal-parado na construção e imobiliário é da Banca e que se a Banca não começar de novo a emprestar, pode ter problemas. A culpa do mal-parado é da Banca mas esta tem de emprestar ao sector para novas obras, isto porque vão faltar casas em Portugal. O problema não está na total descapitalização destas empresas, nem sequer na falta de prudência de muitas delas quando decidiram alavancar os seus investimentos. O problema não está na falta de imaginação na área da reabilitação urbana, nem sequer nas mais de 600 mil casas que estão para vender, nem nos milhões de euros em imóveis parados na Banca. É preciso é construir!

É ver e ouvir a Associação Portuguesa de Empresas de Mediação Imobiliária (APEMIP) dizer que os Golden Visa são um milagre e que a promoção além-fronteiras do imobiliário português tem de estar a cargo do País. Tem de se estar nas feiras certas, nos mercados certos, mas para tal é preciso haver apoios. O problema não está na fraca comunicação das empresas, não está na necessidade de adequar o produto à nova procura e a novas realidades de mercado, não está na necessidade de investir em capacidade comercial além-fronteiras.

Esta cultura de depender de terceiros para fazer alguma coisa tem de acabar! Para bem de todos. O Estado tem de se meter menos na Economia e nos negócios, as Associações de interesse têm de deixar de ser trampolim para qualquer lugar político ou empresarial. Aposto que se tal acontecesse, muitas empresas e empresários sentiriam mais confiança para arriscar mais.

Bons negócios (imobiliários)!

--

Ler também:

Sem comentários: