Por Francisco Barros Virgolino
Director da Proprime
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Esta é uma questão que levanta, com toda a certeza, muitas dúvidas nos tempos que correm, em que são já conhecidas medidas e reflexos da descida acentuada do preço do petróleo em Angola. Como se sabe, a economia do país continua bastante alicerçada nas atividades relacionadas com o petróleo e a desvalorização deste produto levou a uma revisão do orçamento de Estado e a outras medidas restritivas, sobretudo direcionadas para as atividades de importação, refletindo a redução do investimento público e a falta de liquidez em dólares. Adicionalmente, a própria moeda Angolana tem sido alvo de uma desvalorização.
Face a este cenário económico, não seria de esperar que o mercado imobiliário prosperasse, aliás, como nenhum outro segmento da atividade económica. O mercado imobiliário acabou por sofrer uma travagem no seu dinamismo, dada a falta de liquidez que atinge atualmente o país, gerada precisamente nesta crise do petróleo e na escassez de divisas. Mas, a depreciação do Kwanza teve também um impacto, não diria positivo mas “menos negativo”, nas transações imobiliárias. E o que se nota efetivamente é que esta previsível desvalorização da moeda Angolana tem levado a que os particulares se “refugiem” no imobiliário como forma de se defenderem da perca de valor da moeda nacional, e, neste contexto, as mediadoras imobiliárias têm continuado a fazer negócios no centro da cidade de Luanda.
Em termos de valores, o sentimento generalizado é que os preços de transação (venda) de imóveis se têm mantido mais ou menos estáveis neste cenário de descida do preço do petróleo, desvalorização da moeda Angolana e escassez de divisas internacionais. Já no arrendamento, que continua a ser uma opção dominante principalmente no acesso à habitação, os valores têm observado alguma contração, mas tal deve-se, sobretudo, ao aumento da oferta disponível para arrendar, num resultado normal das leis de mercado e de equilíbrio entre oferta e procura.
Quanto aos próximos tempos, não se consegue antecipar como evoluirá o mercado imobiliário, dada a sua interligação com a evolução da economia, e principalmente no que respeita o investimento público, investimento externo e a liquidez do próprio sistema financeiro. Estamos também na expectativa de ver como a Economia reage a esta nova “crise do petróleo”, dado que Angola continua a necessitar de diversificar a sua base. Mantém-se a incerteza sobre a recuperação do preço do petróleo, que caiu mais de 45% desde julho passado, e o crescimento da atividade económica deverá ser revisto em baixa para 3,3%.
Mas de acordo com uma das 3 grandes agências internacionais de notação, no seu mais recente relatório sobre Angola, mesmo sendo “apanhado” em mais uma crise do petróleo em plena dependência das receitas geradas por este produto, o país soube responder de forma mais célere do que em 2008, quando se verificou a última grande queda dos preços petrolíferos.
Este ano de 2015 apresenta-se, então, como um ano difícil para o mercado imobiliário de Angola mas também é um ano em que uma correcta adequação de recursos, a necessidade de se recorrer a novas ferramentas de investimento, a necessidade de se encontrar soluções para atrair mais capital estrangeiro, se bem aproveitado pode ser um prenuncio de anos vindouros mais profissionais e com oportunidades internas e externas. Desta forma também o Mercado Imobiliário poderá contribuir para o esforço nacional de diminuição da dependência das receitas do sector petrolífero.
Atravessa-se um período difícil mas que tornará mais fortes quem for mais flexível e capaz de se adaptar a esta nova realidade.
Cautela é a palavra de ordem neste momento!
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