Os tempos são hoje menos favoráveis para o setor imobiliário em Angola, “arrastado” pela conjuntura económica adversa que hoje se vive no país e que, pelo menos este ano, deverá manter-se. O preço do petróleo, em mínimos históricos e com perspetivas de não valorizar a curto-prazo, tem afetado negativa e profundamente a economia Angolana, que, não obstante os esforços louváveis para reduzir a sua dependência deste setor, continua a ser maioritariamente motorizada por ele. A par desta situação, a desvalorização do Kwanza também tem sido bastante penalizadora e deverá ainda acentuar-se.
Os efeitos no setor imobiliário foram sentidos de imediato nos níveis de atividade, com a desvantagem do produto imobiliário, a nível de produção, não poder, devido às características próprias do seu ciclo de desenvolvimento, adaptar-se de forma também imediata. Ou seja, quem ainda não está a construir pode colocar o seu projeto em stand-by, mas quem já está ou já tem produto concluído, tem que absorver este impacto. O stock de produto imobiliário deve, por isso, continuar a aumentar, mas a procura na habitação existe para refúgio da desvalorização da moeda e é praticamente inexistente ao nível de escritórios. Este desequilíbrio, como é regra de mercado, vai obviamente trazer novas correções em baixa aos valores dos imóveis, quer de venda quer de arrendamento.
Adicionalmente, a própria Banca está mais restritiva na concessão de crédito hipotecário, exigindo taxas de esforço mais conservadoras, o que também tem contribuído para a diminuição das vendas por parte dos promotores, já fortemente afetadas pela procura limitada a quem tem liquidez em moeda local. Mesmo a nível do mercado de particulares, as vendas diretas também estão em baixa, uma vez que quem colocava o seu imóvel no mercado para vender procurava divisas e essas são um bem cada vez mais escasso, também este canal de mercado parou.
Mas mesmo neste cenário, podemos encontrar oportunidades. Temos assistido nos últimos meses a uma maior procura de produtos imobiliários como aplicação de capital face à atual instabilidade cambial. Ou seja, atualmente a absorção de imóveis é feita, sobretudo, por pequenos aforradores particulares que procuram num imóvel uma alternativa sólida de aplicar o seu capital face a outras opções de aforro, num cenário em que a divisa local sofreu uma forte desvalorização e deverá continuar nesse percurso. Evidencia-se mais do que nunca, nesta opção, a tangibilidade dos imóveis, já que nesta fase da economia, a expectativa destes pequenos aforradores não é obter um retorno gerado pelo imóvel, nomeadamente através da sua colocação no mercado de arrendamento, que está estagnado. Estes aforradores, que são sobretudo nacionais, compram hoje com o objetivo de, nesta fase, usufruir eles próprios do imóvel, o que tem trazido alterações no perfil de produto transacionado. São sobretudo imóveis habitacionais e as tipologias de maior escoamento são as superiores a T3, quando, tradicionalmente, uma compra de um imóvel habitacional para rendimento recairia sobre um T1 ou T2, para colocar junto do mercado de expatriados.
Para já, o que podemos dizer é que a absorção de produtos imobiliários nos próximos meses deverá continuar a vir por esta via, que oferece ótimas oportunidades a quem tiver liquidez, especialmente considerando o stock de produto acabado.
Por isso, e em suma, é importante lembrar que a tangibilidade dos imóveis é uma característica que sempre se destacará aos olhos dos investidores num cenário de adversidade económica. Os imóveis são e sempre serão vistos como a classe de investimento de refúgio em tempos difíceis: o safe haven, um porto seguro. Podem ter mais valor hoje, menos valor manhã, mas terão sempre um valor intrínseco!
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Por Francisco Barros
Diretor Executivo da Proprime
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