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segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Quem tem medo do Lobo Mau?

Todos nós conhecemos a história “Os Três Porquinhos”. Como sabem, esta termina com o porquinho mais prudente, o único, a vencer o lobo mau, uma vez que construiu uma casa de tijolos, resistente a todos os ataques do feroz animal.

Também muitos de nós conhecem a passagem bíblica que fala da construção da casa sobre a areia e da casa construída sobre a rocha.  "Desceu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela não caiu; pois estava edificada sobre a rocha."

A questão de hoje é saber sobre que “tipo de casa” é desenvolvido o nosso trabalho. Se é sobre uma casa de palha que ao primeiro sopro se desfaz e temos de nos refugiar na casa do porquinho vizinho, ou se é sobre uma casa de tijolo, com boas bases, que nos permite resistir às intempéries e adversidades e ainda acolher e ajudar os mais incautos.

Serve esta introdução para questionar se a nossa atividade profissional está alicerçada em bases sólidas. Assim, colocam-se as seguintes questões: 
  • Estamos a par das notícias diárias do setor imobiliário?
  • Acompanhamos a evolução e as tendências de mercado?
  • Lemos com frequência os estudos de “research” que são publicados periódica e muitos deles gratuitamente pelas principais consultoras?
  • Estamos atentos às alterações da legislação que influenciam o mercado e consequentemente, o valor do imóvel?
  • Estudamos novos temas e atualizamos os já conhecidos?
  • Fazemos formação contínua, todos os anos, um mínimo 20 horas?

Relativamente à formação contínua, há anos li uma frase que refere:

“For every profession, it is useful to pause and reflect on developments over the past hundred years or so and who influenced these changes. Without taking the time to reflect on “change”, it becomes easy to believe that current practices are sufficient and that we can simply become more experienced at doing the same thing we did last month or last year. But viewed from a longer perspective, we see that business practices have changed dramatically and will likely continue to change. “Business as usual” will never last more than part of a single generation”. - Miller and Markosyan, 2003”.

Na altura, quando li esta afirmação, lembrei-me daquela velha máxima: “Eu?! … Eu tenho muita experiência. Já faço assim há 10 anos…”.

A revista Ingenium (maio / junho 2018), revista da Ordem dos Engenheiros, dá nota de uma pena de “Advertência” aplicada pelo Conselho Disciplinar da Ordem dos Engenheiros a um Membro que elaborou um relatório pericial, no âmbito de processo judicial. Neste caso foram violados os “Deveres do engenheiro para com a entidade empregadora e para com o cliente” e também “Deveres do engenheiro no exercício da profissão” (Artº 142 e Artº 143 dos Estatutos da Ordem dos Engenheiros).

Na qualidade de Firm Regulated by RICS (Royal Institution of Chartered Surveyors), fui fiscalizado em novembro de 2016. Nessa altura, um Colega, vindo do Bruxelas, esteve no meu escritório, toda uma manhã, a verificar e a debater procedimentos em trabalhos concretos por mim realizados.

Decorridos cerca de 1,5 anos, tive, no passado mês de julho, uma segunda auditoria do RICS. Foi-me solicitada toda a informação relativa a três trabalhos (um residencial, um industrial e um “cash flow” de um terreno) aleatoriamente escolhidos pelo Revisor do RICS. 

Tal como na Ordem dos Engenheiros, o RICS pode expulsar os seus Membros caso estes cometam graves infrações na realização do seu trabalho.

Encaro estas Auditorias com toda a tranquilidade. Estas não são efetuadas por “Lobos Maus” que nos querem “comer”, mas sim por Colegas de Profissão, prestigiados e experientes profissionais, que querem ajudar-nos a identificar assuntos onde podemos melhorar a prestação de serviço que fornecemos aos nossos Clientes e pelo qual cobramos honorários. 

Julgo que, neste tema ainda temos muito que aprender. Admito que, por vezes, ainda há pessoas que fiscalizam com um objetivo destrutivo (de criticar e detetar falhas) e não com um objetivo construtivo (de ajudar e de incentivar). Os primeiros julgam que desempenham um bom trabalho porque detetam e apontam erros nos outros que são muito fraquinhos.

A única forma de evoluirmos é fazermos formação contínua, estarmos a par dos acontecimentos, trabalharmos e/ou dialogarmos com outros Profissionais. Devemos, permanentemente, questionar e pôr em causa o que e como fazemos o nosso trabalho. 

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Por Francisco Espregueira, MRICS
Perito Avaliador de Imóveis
francisco.espregueira@sapo.pt

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