Da mesma forma que a Uber, Amazon e Airbnb abruptamente transformaram as respectivas industrias a nível global, o I-Buying surge como a grande revolução no Imobiliário.
Esta realidade que está convenientemente a ser “cosmetizada”, com campanhas cuidadosamente estudadas e aproveitando “alguma” ingenuidade e desatenção dos agentes imobiliários, vai cair no mercado como uma bomba e irá, seguramente, afetar o emprego de largos milhares de agentes imobiliários em todo o mundo. Este é o resultado do desenvolvimento das novas tecnologias na industria imobiliária em parceria com entidades financeiras que perceberam a oportunidade do modelo.
Enquanto se discute a angariação em exclusivo ou aberto, modelos de negociação, estratégias para as redes sociais, CRM’s, tratamento de Leads, etc, nos EUA, sede da maioria das empresas que dominam vários mercados (incluindo o português) e influenciam de forma determinante o mercado mundial, avança-se a todo o vapor para o modelo I-Buying.
O que é o I-BUYING?
Este conceito nasceu do “house flipping” - comprar, reabilitar e vender com lucro. Imagine alguém que tem uma casa que pretende vender, hoje em dia provavelmente tem um amigo que é agente de uma imobiliária, tinha um flyer no vidro do carro de um agente local, uma imobiliária na sua rua ou até pode colocar o anúncio e tentar vender por si mesmo. Irá ter visitas ou não, trocar ou não de agente imobiliário, dar exclusivo ou não, processos negociais mais ou menos longos com maior ou menor êxito, mas sempre desgastantes até conseguir fechar o negócio, algo que poderá demorar vários meses.
Com o I-Buying o proprietário contacta uma empresa na internet, que faz uma primeira avaliação da sua casa por telefone ou formulário e através de algoritmos baseados em informações de mercado, os AVM’s – Automated Valuation Models - recebe uma oferta em minutos, dentro de um modelo que determina que é o valor correto para a venda e paga uma taxa que ronda os 5 a 7%. Se o valor proposto for aceite, o processo dura cerca de uma semana até a transação estar concluída e o dinheiro na mão!
Seguidamente a empresa faz uma intervenção na casa de forma a torná-la mais atraente e coloca-a no mercado, ganhando uma apetecível margem, algumas empresas fornecem um serviço 360º, fazendo créditos hipotecários e respetivos seguros e até oferecem a mudança, ou seja um “all in one” que promete tornar a mediação tradicional obsoleta.
Crescimento do modelo I-BUYING
Este modelo financiado robustamente por bancos e VC’s (venture capital) está a crescer e a alargar-se obrigando as empresas que não querem perder terreno, a mudar os seus modelos operacionais para adoptar o conceito. Se inicialmente o I-Buying estava nas mãos das empresas OPENDOOR E OFFERPAD, começam a surgir conceitos derivados como a Knock e a Ribbon.
Mas o oxigénio deste modelo promete vir de grandes empresas como o Portal Zillow a anunciar um objectivo de compra de 5.000 casas/mês nos EUA, e no Brasil, com o Grupo ZAP/Viva real, Portal líder na América Latina a anunciar o mês passado o inicio do conceito em parceria com o Banco Santander, só este ano vai investir $100M Reais no conceito, prometendo um investimento de várias centenas de milhões em 2020. Ao que parece, tudo isto passa ao lado dos reguladores do mercado e dos legisladores, que não parecem preocupados com o impacto laboral e com as éticas de concorrência.
As imobiliárias gigantes, como a KW, mostram o que será o futuro; nas palavras de Gary Keller numa entrevista recente, confessou que “...sinto que não tenho outra escolha agora”, "Eu não posso permitir que o Opendoor ou o Zillow saiam e sejam o único jogador no espaço do iBuyer e, em seguida, comecem a ditar os termos e a construir a marca em torno de 'eles compram casas”.
O que será da mediação tradicional?
O I-Buying irá crescer na proporção da percepção do mercado para a vantagem do modelo, do seu alargamento a novos mercados e das campanhas de marketing associadas.
A mediação tradicional, aquela que não tem capacidade técnica e financeira para adoptar o modelo irá ficar com as “sobras”, ou seja propostas não aceites pelos proprietários e que, seguramente, serão disponibilizadas em troca de algum fee pelas empresas I-Buying e, alguns nichos de mercado que ficam fora do objectivo do conceito como o imobiliário comercial, eventualmente o de luxo, empreendimentos, etc.
Este modelo irá evoluir, crescer e seguramente influenciar negativamente o emprego de agentes, bem como pequenas e médias empresas imobiliárias a nível global, decerto que os mercados Norte-americano e Brasileiro serão os primeiros a sofrer o maior impacto, seguindo-se os que estão mais ligados ao modelo imobiliário Norte Americano como é o caso português dominado pelas suas multinacionais.
“A tecnologia moderna é capaz de realizar a produção sem emprego. O diabo é que a economia moderna não consegue inventar o consumo sem salário.”
Hebert de Souza
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João Abelha
Co-Founder Date a Home
Real Estate Digital Thinker
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