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quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Minha Visão sobre a Crise Actual

Assistimos nos últimos dias a um conjunto de acontecimentos que têm provocado uma autêntica montanha russa nos mercados financeiros. Ainda há dias escrevia sobre a maior queda diária nos mercados financeiros norte-americanos. Pois os mercados, dois dias depois, trataram de corrigir essas quedas abruptas e alguns deles observaram subidas de 2 dígitos, como foram os casos do PSI-20 e do IBEX-35.

As razões inerentes às quedas verificadas relacionavam-se, ao que parece, com um problema informático nos índices norte-americanos mas, obviamente, muita relação havia com os problemas da dívida soberana grega e do risco de contágio a outras economias europeias.

Já quanto à subida em flecha dos mercados, esta ocorreu logo após o anúncio por parte da União Europeia da constituição de um fundo europeu de emergência para auxílio a economias europeias em necessidade.

Antes de mais, permitam-me uma palavra sobre estas oscilações vertiginosas nos mercados. Fico tão apreensivo com descidas de 5% ou 10% nos mercados, como com subidas de 5% ou 10%. O princípio é o mesmo: nos mercados financeiros não há criação de riqueza, existe apenas transferência de riqueza. Se um índice desce 5%, é porque alguém perdeu 5% e alguém ganhou 5%. Se o mesmo índice sobe 5%, o mesmo acontece. Não é possível todos ganharem ou perderem ao mesmo tempo, nos mercados financeiros, existe sempre um lado ganhador e outro perdedor. Por isso é que existem bolhas: quando os mercados sobem demasiado, é como um copo cheio de água e esta começa a transbordar, é inevitável. A bolha rebenta!

No que diz respeito ao risco das dívidas soberanas, esta subiu mais no mercado secundário, não tanto no mercado primário (veja-se a mais recente emissão feita pelo Estado Português, um sucesso a 4,5%).

O que é que isto significa? Os Estados emitem dívida pública através da venda de Obrigações do Tesouro (OT's), por exemplo. Fazem-no em mercado primário, ou seja, através de leilões que realizam junto de investidores institucionais. Executado o leilão, essas obrigações podem depois ser transaccionadas no chamado mercado secundário, tal como as acções são transaccionadas após um IPO. Se existe receio no mercado relativamente à possibilidade de default de um Estado, as yields dessas OT's subirão no mercado secundário representado uma desvalorização do título (a OT). Naturalmente, este acréscimo de risco transmitir-se-á para o mercado primário, dificultando a colocação primária de dívida soberana no mercado, encarecendo-a.

Quanto às medidas recentemente tomadas pela União Europeia, e que vieram provocar uma subida em flecha das cotações em todos os mercados mundiais, basicamente aquilo que se está a procurar fazer é tornar o Banco Central Europeu (BCE) numa entidade europeia mais activa nos mercados, procurando controlar não só a estabilidade da moeda, como também a estabilidade financeira da União Europeia. Como? Através da compra, em mercado secundário, de OT's de Estados Europeus, procurando "controlar" eventuais movimentos especulativos que provoquem a subida das yields.

Pessoalmente, parece-me uma boa medida se o objectivo é, efectivamente, manter a União Europeia como uma união económica, financeira e monetária. Conseguindo isto, o passo seguinte será naturalmente procurar aspectos conciliadores que permitam atingir, no futuro, uma união política. O problema passa, para mim, pela cobertura ao BCE. Quem cobre o risco de falência do BCE?

Vejam bem: em 2007 e 2008 tivemos um problema de dívida nos mercados imobiliários mundiais, principalmente no mercado norte-americano. O que é que se fez? Transferiu-se dívida que era privada (dos bancos, dos hedge funds, etc.) para os Estados - veja-se o exemplo da Fannie Mae e Freddie Mac ou do que se passou na indústria automóvel ou de todos os bailouts que ocorreram.

Passados 2 anos, o mercado está a "penalizar" isso mesmo: agora são os Estados que têm mais risco - ficaram com a dívida que antes era privada, a recessão retirou-lhes riqueza e impostos e as suas próprias necessidades de financiamento aumentaram. Para amenizar esta situação, o que se faz? Acrescenta-se e transfere-se mais dívida! Dívida essa agora coberta pelos bancos centrais. Não é só o BCE que está a tomar uma acção enérgica e directa sobre os mercados de dívida; a FED já o fez o ano passado ao comprar CMBS ou aceitá-los como colateral de dívidas. O BCE está a fazer exactamente o mesmo, agora.

Para não me alongar mais, julgo que é aqui que agora estamos, ou seja, no topo da pirâmide. Acima deste topo, não há mais por onde escalar. Caso o BCE e a FED falhem, não há mais entidades a quem recorrer. Ou haverá?

É claro que sim... aos contribuintes que no final pagarão toda esta dívida pelo aumento de impostos. IVA sobe, IRS e IRC sobem. «Elementar, caro Watson», diria o outro.

Bons negócios (imobiliários)!

4 comentários:

Anónimo disse...

Caros colegas do imobiliário e das Finanças,
O enfoque no "Real Estate" enquanto valor real, garantido e seguro perdeu-se por razões diversas, bolhas especulativas, re-hipotecas, desiquilibrio por parte da oferta, fiscais por passar a ser considerado um rendimento do Trabalho ao invés de Capital; após o qual se tem assistido a uma desorientação na maior parte do mundo desenvolvido - aonde a perda deste paradigma se conjuga mais intensamente, com a volatibilidade dos mercados, incremento das notações de risco e das taxas fiscais. Curiosamente o ouro, outra "commodities" escapa. Valerá a pena reflectir sobre o tema: a perda da confiança no imobiliário enquanto activo seguro estará na origem desta crise global?

Gonçalo Nascimento Rodrigues disse...

Caro Anónimo (assinem os posts, por favor!),

Não, não me parece. Não me parece que haja sequer uma tão grave crise de confiança relativamente a uma suposta segurança no investimento imobiliário.

O que há, sim, é uma maior selecção, passando desde logo pelo não investimento na maior parte dos activos de promoção.

O dinheiro disponível é mais escassso, logo mais selectivo, e procura activos de refúgio. O imobiliário de rendimento prime, com boa localização e bons tenants, parece-me a mim manter os mesmos fundamentais que mantinha antes da crise.

Pedro Matos disse...

Caros Mestres,

Todos os que agora opinam nos media, sobre a crise financeira, a estabilidade do euro, e o futuro que que há-de vir, onde estavam quando foi tomada a decisão do cambio de EUR 1.00 = PTE 200.482 ?

Não me recordo de alguém ter posto em causa este cambio.

Qual foi a personalidade portuguesa que realmente o estudou?

Todos sabemos como são tomadas as decisões em grupo. Ninguém se debruça seriamente no estudo da questão, pois a decisão pertence a um colectivo.

Qual é o problema de sair do euro?

Qual é o problema de abandonar a U.E.?

Será que o Brasil tem interesse numa nova união?

É bom não esquecer que foram mais de 300 anos de economia comum, e até falamos a mesma lingua.

Saudações a todos,
Pedro Matos

Gonçalo Nascimento Rodrigues disse...

Caro Pedro,

Essa do Mestre, não deve ser para mim porque ainda não tenho o grau, falta-me finalizar e entregar a tese lol

Quanto ao resto, a teoria económica diz-nos que estas crises se resolvem desvalorizando a moeda. Como estamos no Euro, a alternativa será "desvalorizar" aquilo que podemos, ou seja, salários.

Mas tomando como alternativa aquela que propõe - sair do euro - pergunto-me: a quem exportaríamos produtos denominados em escudos, quem os compraria? Quanto nos custaria dívida denominada em escudos? Quanto custaria a uma empresa negociar derivados que lhe permitissem cobrir riscos cambiais com o escudo?

E quem confiaria numa Nação, que ora está na União Europeia, ora se une ao Brasil, ora amanhã se associa a Angola?

Quanto ao resto, nunca fui muito adepto do quem fez, quem pensou, ai e se assim ou assado... diagnósticos à posteriori ou posturas do "bem te disse", não é lá muito comigo.

Prefiro aprender com os erros e olhar em frente. Esta é a realidade, este é o nosso Mundo. É nele que temos de viver, é nele que temos de pensar, é por ele que temos de trabalhar.