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quinta-feira, 16 de junho de 2011

As yields no sector da habitação


A yield é uma medida de rentabilidade muito usada e querida no nosso mercado imobiliário. É igualmente uma importante variável para determinar um potencial valor de mercado de um imóvel, usando o método de rendimento.

Existe research em Portugal sobre as yields nos sectores de office, retail, industrial. Mas nada no sector da habitação.

Em tempos escrevi 2 artigos sobre o Price Earnings (PER) na habitação, ou se quiserem, o price-to-rent ratio. De uma forma simplista, o PER não é mais que a yield (ou para as acções, o dividend yield) traduzida em anos. Na altura, alertava para os principais perigos da yield (ou do PER): é estática e não leva em linha de conta a estrutura de financiamento.

Desta forma, não me surpreende nada a notícia saída há dias no Finantial Times, referindo que os buy-to-let estariam em risco de negative equity. Um investidor em habitação, direccionado para o buy-to-let, tende a "prender-se" muito à yield, esquecendo-se do facto de ser estática.

Tomar decisões de investimento em buy-to-let, numa conjuntura de descida de preços, exclusivamente baseado em yield é um erro. Recorrer a financiamento para alavancar esses investimentos, torna a decisão um duplo-erro, porque a yield não incorpora nenhuma destas variáveis.

Voltando a Portugal, convencionou-se que uma prime yield no sector da habitação rondaria os 5%. Já tive oportunidade de analisar o portfolio de alguns clientes particulares e de calcular a rentabilidade das suas carteiras. Decisões que tomaram, nos últimos 5 anos, baseadas em yield estão a demonstrar-se ruinosas, sendo expectável que comecem a gerar cash-flow negativo rapidamente.

Por isso, o meu conselho é este: qualquer investimento em buy-to-let residencial deve ser olhado com muito cuidado. Analisar a yield, sim, mas é necessário entender qual o preço médio de mercado, expectativas futuras de evolução do preço, liquidez do produto, facilidade de arrendamento, etc. Mas, mesmo assim, se não estão convencidos, pelo menos subam essa yield de 5%, pelo menos para 6,5%.

Bons negócios (imobiliários) e de buy-to-let!

10 comentários:

Mário Fonseca disse...

É incrivel a falta de rigor deste artigo...

Gonçalo Nascimento Rodrigues disse...

Porquê, Mário? Qual é a sua perspectiva? Que opinião tem sobre o assunto?

Abraço,

Gonçalo

Gonçalo Nascimento Rodrigues disse...

Pelos vistos o Mário não tem muito mais a dizer...

Ainda sobre este assunto, aconselho a ler http://www.financialsamurai.com/2011/06/23/why-rental-property-is-a-powerful-asset-class/.

Esta é uma visão com a qual concordo menos. Se bem que historicamente, a apreciação real das casas é próxima de nula, com correlação quase perfeita com inflação, nos tempos que correm fico com algumas reticências...

E o paper que escrevi mostra grande correlação do valor das casas com o PIB e a taxa de desemprego...

Abraço.

Gabriel Paz disse...

Muito bom artigo Gonçalo. Parabéns.

Mário Berto disse...

Caro Gonçalo,

Antes de mais os meus sinceros parabéns pelo excelente trabalho que tem feito com seu blog.

É sempre um prazer ler os seus artigos e dos seus associados.

Sobre este artigo, quero por-lhe a seguinte questão:
Se não recomenda o yield como forma de avaliar o investimento em buy-to-let, que método recomenda?

Cumprimentos e desejos de continuação de bom trabalho.
Mário Berto

Gonçalo Nascimento Rodrigues disse...

Caro Mário Berto,

Não é que não recomende a yield. Aquilo que digo é que a yield, per si, não chega, para mais na conjuntura actual. Quem investiu, baseado apenas numa yield de 5%, está a perder dinheiro com grande probabilidade. E daí não estranhar a notícia saída no FT.

Para um investimento em buy-to-let, parece-me essencial:

- Verificar se tipologia e localização do imóvel são adequados ao arrendamento;
- Verificar da liquidez do mercado e valores médios de venda;
- Determinar uma exiting strategy e aferir de um potencial valor de venda futuro;
- Calcular a yield;
- Analisar o impacto do endividamento;
- Calcular a rentabilidade do negócio (baseado na renda, nos custos de manutenção e na estratégia de saída).

Abraço,

Gonçalo

Jorge Sa disse...

Caro Gonçalo

Excelente artigo que vai ao encontro do que sempre pensei sobre o assunto.

Uma decisão de investimento, baseada em conceitos simples, terá como resultado provável um risco e uma rentabilidade não esperadas. Com maior significado quanto mais volatilidade apresentar a conjuntura em que as variáveis determinantes se afastam das tendências históricas.

Das suas recomendações concluo e concordo que o buy to let residencial deverá ser analisado utilizando os preceitos de análise qualquer projecto de investimento - estudo de mercado, identificação das variáveis que influenciam a rentabilidade do projecto (impostos, custos de manutenção, taxas de desocupação, custos de financiamento, custos judiciais...)taxa de actualização dos cash-flows, etc. Acrescento ainda a análise de sensibilidade do projecto às variáveis relevantes. Não sendo assim, é como um jogo: aposta-se esperando ter sorte...

Gonçalo Nascimento Rodrigues disse...

Jorge,

À sorte, acrescento a velha máxima: «o imobiliário nunca perde valor», o que não é verdade, como temos visto.

Abraço,

Gonçalo

Mário Berto disse...

Caro Gonçalo,

Agora não concordo consigo.

É inteiramente verdade que os preços no imobiliário têm descido nos últimos tempos, mas as quedas maiores ocorreram onde as subidas anteriores também tinham sido maiores.

Mas o que me leva a não concordar consigo, é a perspectiva temporal.
No longo prazo, a propriedade, a terra em si, irá sempre manter ou aumentar o seu valor, e sem desgastes ou depreciações.
Não é por acaso que o valor dos terrenos não é amortizável.

Claro que pode sempre existir fenómenos extraordinários como a subida do nível do mar ou o caso de Fukoshima, mas ai aplica-se novamente a máxima do imobiliário:

"Existem 3 factores determinantes para o valor de uma propriedade: a localização,a localização e a localização!"

Abraço,
MB

Gonçalo Nascimento Rodrigues disse...

Os terrenos até podem não desvalorizar (nominalmente), as casas construídas, essas sim, desvalorizam! E foi este dogma, este "mito urbano" que também contribuiu para más decisões de investimento em buy-to-let. E quando disse que o imobiliário nunca perdia valor, era nisto que estava a pensar, não tanto em terrenos.

E quanto aos factores determinantes que fala, nem os discuto! lol