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quinta-feira, 12 de abril de 2018

O efeito dos transportes no imobiliário

A discussão em torno do mercado residencial, da sua valorização excessiva, da falta de oferta e de soluções para os residentes tem estado na ordem do dia. De vários quadrantes da sociedade são exigidas intervenções da parte do Governo, seja para limitar a oferta de Alojamento Local, seja para aumentar a oferta de habitação para arrendamento em Lisboa, seja ainda para criar mecanismos que contenham a subida dos preços no residencial.

Não vejo nem ouço ninguém a falar de algo que me parece muito mais importante: transportes e mobilidade.

Penso ser um erro querermos encontrar soluções de habitação para todos na cidade. Além de ser um erro, não me parece sequer possível. A dinâmica que Lisboa vive hoje em dia, similar a muitas e muitas outras cidades europeias, faz com que tal propósito esteja verdadeiramente longe de ser possível. É sabido que em outras capitais na Europa, muitas são as pessoas que moram fora das cidades mas que para lá diariamente se deslocam. É inevitável, a partir do momento em que o espaço nos centros urbanos é finito e o número de pessoas aumenta cada vez mais. Mais procura, menos oferta, pressão em alta dos preços. Quem tem menos poder de compra, tem de ir para zonas limítrofes às cidades.

O grande desafio do mercado residencial hoje em dia passa por 1) encontrar soluções de habitação para todos em diferentes zonas da Grande Lisboa e 2) disponibilizar soluções de transporte e mobilidade em quantidade e qualidade.

Vem este tema também a propósito devido a um research que li recentemente da Savills sobre o efeito no mercado imobiliário de uma melhoria da rede de transportes. Esse documento conclui o seguinte (resumidamente):
  • As estações de comboio mais utilizadas nos últimos 2 anos foram aquelas que distam entre 19 a 39 minutos do centro de Londres;
  • As linhas mais utilizadas são as que se localizam em zonas urbanas menos valorizadas;
  • Nas estações e linhas férreas que sofreram melhorias é comum verificar-se um aumento no número de passageiros e uma valorização do imobiliário;
  • Como exemplo, o investimento feito em Birmingham New Street levou a um aumento de passageiros na ordem dos 33% e uma subida do preços das casas, em torno da estação, na ordem dos 44%, desde 2015.
O Estado não tem de estar preocupado em disponibilizar soluções de habitação para todos no centro da cidade. Tem, sim, de criar as condições necessárias e suficientes para que as pessoas possam vir à cidade trabalhar, passear, usufruir. Acima disso, tem de investir na qualidade de vida nos chamados "subúrbios". Reabilitação urbana em Lisboa e Porto, sim, mas renovação urbana nas cidades limítrofes a Lisboa e Porto é fundamental. Tal como é urgente investir em linhas férreas, mais estações, na melhoria da linha de metropolitano aumentando a sua amplitude, na criação de mais corredores bus e no investimento em mais e melhores autocarros.

Em vez de se disponibilizarem 1.400 milhões de euros do Fundo de Estabilização da Segurança Social para reabilitação urbana, deveria o Estado estar a canalizar fundos para os transportes e mobilidade. O efeito na qualidade de vida das pessoas e na valorização do imobiliário parece garantido.

Bons negócios (imobiliários)!

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Gonçalo Nascimento Rodrigues
Out of the Box, Main Thinker

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