A realidade dos Portais Imobiliários
Nos últimos 25 anos os portais imobiliários ganharam uma importância crescente e tornaram-se numa peça chave da industria imobiliária, na sua essência são agregadores de anúncios e de tráfego de utilizadores tendo como objetivo fornecer aos anunciantes “leads” que possam resultar em negócio e, mais recentemente, num conjunto de métricas que ajudam a gestão a tomar as medidas estratégicas adequadas para melhorar resultados.
A nível global a dimensão deste negocio é gigantesca com valores estimados superiores a $100bn. Como alguns exemplos dos maiores e mais lucrativos portais temos o Zillow nos Estados Unidos, o Rightmove no Reino Unido, ImmobilienScout24, VivaReal e alguns outros na Ásia e Oceânia. Pela dimensão do nosso mercado os valores de portais como a Casa Sapo, Imovirtual são muito pequenos, mas não são estanques a toda a evolução tecnológica que está a chegar.
Os portais na sua generalidade e por força do seu monopólio, nunca se preocuparam em criar valor para além dos “leads” e estatística, por outro lado, só desde 2011 começou a existir uma preocupação com as redes sociais e um novo paradigma de comportamento dos consumidores no digital. Na realidade os portais não se preocuparam em alterar o seu modelo de relacionamento mantendo-se num B2C sem preocupação em gerar fidelização e reforço do papel das agências e agentes, estes, beneficiando de mercados em alta também nunca exigiram ou procuraram alternativas, os resultados são bons e como tal, para quê preocupar com o futuro!
Tecnologia, Big Data e AI, a ameaça aos Portais!
Um negócio tão lucrativo não passa despercebido, da mesma forma que os portais imobiliários acabaram com os suplementos imobiliários nos jornais, a evolução digital ameaça seriamente os portais, mas, de que forma isso irá acontecer?
Neste momento e a nível global três dos principais líderes da revolução e inovação digital, a Google, Amazon e Apple estão a investir fortemente na tecnologia de assistentes de procura por voz, o tratamento de informação armazenada ao longo de anos (Big Data) e a AI (Inteligência Artificial) têm evoluído de uma forma incrível tornando-se, para estes gigantes tecnológicos, uma prioridade no relacionamento com os consumidores.
Neste momento, de forma faseada e em todo o mundo estão a implementar-se os sistemas de assistentes de procura por voz Amazon Echo, The Google Home e o Apple Homepod. Para termos uma ideia do poder e capacidade da Google, basta pensar que durante 15 anos a Google recolheu e armazenou todo o conjunto de inventário de propriedades e agências em cada país através dos anúncios e dos portais, têm em detalhe dados de localização (proximidade de zonas verdes, escolas, transportes, etc.), evolução de preços, tipologias, etc.
Para além de todos os dados armazenados dos imóveis a nível global, a Google tem ainda, os nossos dados individuais e, através de uma simples sincronização com a conta Google, tem todos os dados relativos ás nossas compras, aos percursos que fazemos, onde trabalhamos, localização de família e amigos, restaurantes preferidos, orçamentos, gostos pessoais, enfim todo um conjunto de informação que permite aos algoritmos avançados aperfeiçoarem um perfil muito definido de cada utilizador.
Agora é só somar 1+1 e imaginar num futuro próximo, estar sentado sozinho ou com a família em frente à sua TV, ou com uns óculos RV (realidade virtual) ou um tablet e dizer:
Olá Google - Quero um apartamento T3, vista mar!!!
Seguidamente irão começar a surgir as propostas disponíveis do inventário de todas as agências, de acordo com as características do seu perfil, estilo de vida, gostos, rendimentos, etc. Poderá entrar numa visita virtual e visitar as propostas selecionadas e ainda ver os espaços circundantes, tudo isto no conforto da sua casa.
É fácil perceber que os portais imobiliários perderão o seu valor, precisamente porque se tornam incapazes de competir, sobretudo com a Google e Amazon que conseguem tratar milhões de dados comportamentais dos consumidores por forma a fazer-lhes ofertas de acordo com os seus perfis, modos de vida, capacidade económica e preferências com incrível precisão, adotando e integrando as tecnologias mais recentes de voz, realidade virtual e aumentada.
Existe uma solução?
Claro que alguns dos portais mais importantes estão preocupados com esta situação e começam a tentar encontrar soluções. Assim o gigante Zillow nos Estados Unidos tem apostado numa estratégia de relacionamento e interação com os utilizadores, através por exemplo do “Home Tours Highlight” e num considerável investimento em tecnologia, mas os rumores é que pretendem evoluir para ser um broker gigantesco, em que os agentes terão todas as condições para promover as suas angariações fora de qualquer marca que não a Zillow, neste lado do oceano a Zoopla em UK e alguns outros portais têm apostado na criação de serviços complementares que resultam no aumento da proposta de valor do serviço proposto pelos agentes. Algumas das principais agências imobiliárias britânicas como por exemplo a Savills e a Connells têm investidos em “proptech’s”.
CONCLUSÃO
Na minha opinião, a solução passa por humanizar a relação imobiliária, apostando em modelos H2H (Human to Human), privilegiando as relações interpessoais e criando network, agregando valor à mediação através de serviços complementares e de conteúdos catalisadores de audiências, que resultem em aumento dos níveis de fidelização e de autoridade do agente. Isto consegue-se alterando a arquitetura dos modelos operacionais dos portais e das agências/redes, adaptando modelos formativos que tenham em conta não só o presente mas este futuro que chega sem quase avisar.
Gosto de enfatizar o momento de mudança que vivemos e a velocidade a que ela ocorre, não a devemos ignorar ou fazer de conta que não nos vai afetar, muitos analistas dão 10 anos no máximo para a extinção dos agentes imobiliários, cabe-nos encontrar com criatividade as soluções para que tal não aconteça.
Tive o prazer de, na abertura do último Websummit, escutar o genial Stephen Hawking que há poucos dias nos deixou, devemos pensar e enfatizar uma das suas frases: “Inteligência é a habilidade de se adaptar às mudanças”.
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João Abelha
Co-Founder Date a Home
& Digital Thinker
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