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segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Porto: a nova coqueluche do turismo Português.

É inegável que Portugal está na moda e as suas cidades e regiões são atracções cada vez mais apetecíveis e reconhecidas. Não será apenas por razões fiscais que personagens como Philip Stark, Eric Cantona, Madona, Christian Louboutin, Monica Bellucci ou recentemente Scarlett Johansson escolheram Portugal para a sua nova morada, quando poderiam ter escolhido qualquer outro destino (também esse fiscalmente amigável).

Os prémios e os artigos na imprensa internacional acumulam-se. Em Junho deste ano, durante a última gala dos World Travel Awards (considerados os Óscars do Turismo Mundial), Portugal recebeu 36 prémios, entre eles, o Melhor Destino Europeu pelo segundo ano consecutivo, e Lisboa foi considerada o Melhor Destino Citadino Europeu pela primeira vez. Mas apesar do destaque que Lisboa tem tido nos últimos anos, há uma segunda cidade Portuguesa que vai surgindo como sua rival, em termos de notoriedade e ameaça agora roubar-lhe a ribalta. Estamos a falar do Porto, está claro. A Lonely Planet recentemente destacou o Porto como a melhor cidade Europeia que não uma capital.

O que mudou? Porquê agora?


O Porto e a região do Douro, tal como o resto do país, sempre tiveram características e factores autóctones únicos e que há muito mereciam os destaques que a imprensa internacional hoje lhe dá. Mas até há alguns anos atrás, Portugal era essencialmente visto como um destino de sol e praia barato e as suas cidades eram essencialmente desconhecidas. Nos últimos 5 anos, tudo isto mudou e Portugal passou de 13,8 milhões de hóspedes no final de 2012 para 20,6 milhões em 2017 (INE). É um crescimento de quase 50% em 5 anos ou uma média de, praticamente, 10% ao ano. E as notícias são melhores ainda quando olhamos para os proveitos da conta de exploração do turismo. Para além de estarmos a crescer em quantidade, estamos, sobretudo nos últimos anos, a crescer em qualidade.

Em igual período o RevPar (Receita por Quarto Disponível) subiu de uma média de €28,5 para €50,2 (INE), uma subida de 76%, enquanto a taxa de ocupação hoteleira apenas subiu 30%, o que ajudou as receitas totais do turismo a superar os 15 mil milhões de euros em 2017, tendo mais que duplicado desde os 7 mil milhões atingidos em 2009, segundo a Organização Mundial do Turismo. Apesar dos mercados tradicionais como o Reino Unido, Alemanha, Espanha e França manterem quotas importantes, é importante salientar que a diversificação tem vindo a aumentar, incluindo para mercados fora da Europa, com o principal destaque para os mercados Brasileiro e Norte Americano com crescimentos de 35,6% e 33,4% respetivamente.

Mas o que influenciou esta mudança drástica no nº de estrangeiros que visitam o nosso país e concretamente o Porto e o Norte do país?

Ryanair, a Douro Azul e os factores intrínsecos

Não basta termos uma paisagem bonita e uma história para contar. É preciso que as pessoas saibam que existimos e que facilmente e a um custo acessível cheguem até nós. Quando mais de 70% dos turistas que chegam a Portugal todos os anos, fazem-no através dos nossos aeroportos, a questão de nº de ligações aéreas e a abertura de novos mercados tornam-se o factor fundamental para o desenvolvimento dum destino. Se alguém acreditou nos factores intrínsecos do Porto e do Douro foi Mário Ferreira. O Portuense e presidente da Douro Azul criou em 1993 um serviço pioneiro de cruzeiros no Douro que dava a conhecer essa incrível zona vinhateira. Foi também ele que ajudou a convencer a Ryanair a abrir a rota para o Porto em 2005 e a estabelecer a sua base em Sá Carneiro em detrimento da Galiza em 2009. Hoje, a Ryanair voa para 36 destinos a partir do Porto e a Douro Azul tem mais de 10 embarcações a operar no rio Douro.

A classificação pela Unesco do Centro Histórico do Porto em 1996 e do Alto Douro Vinhateiro em 2001 como Património da Humanidade foi o carimbo que ajudou a promover, mas também a proteger e a conservar, os factores distintivos que em 2017 atraíram 7,5 milhões de turistas para a região.

Uma nova estratégia de promoção

A qualidade do destino/produto e a suas características únicas não servem de muito se não conseguirmos fazer chegar a mensagem aos potenciais clientes. É assim com qualquer produto/serviço que opere num mercado aberto e concorrencial. E a concorrência de produtos substitutos é algo que não falta ao Porto e ao Norte. A mudança deu-se em 2013, durante a crise e a monotorização da Troika, com a necessidade de rentabilizar um orçamento que era curto. A resposta foi concentrar os esforços da promoção e comunicação do Turismo Portugal no marketing digital. Se para uma promoção feita através dos meios tradicionais como a imprensa em papel, outdoors, feiras e eventos o nosso orçamento era uma gota no oceano já para um investimento no digital, que era ainda pouco utilizado pela concorrência, os valores eram significativos e sobretudo tinham duas caraterísticas importantes para quem tinha poucos recursos para dar tiros ao lado: altamente direcionável e mensurável! O resto do trabalho foi feito pelos portugueses. Ninguém recebe como nós, e quem nos visita sente isso, e faz questão de partilhar com os amigos (nas redes sociais está claro!). Isso mesmo foi recentemente aproveitado pelo Turismo de Portugal com o vídeo “can´t skip Portugal”, filmado em pleno Inverno e que pretendeu humanizar o país e as suas paisagens como algo que tem de ser sentido e vivido, para além do mundo digital dos smartphones.

Desafios e Futuro

Os desafios que nos esperam nos próximos anos são muitos e devem-nos continuar a motivar a fazer melhor. Deve haver uma preocupação em continuarmos a diversificar os mercados, alargar o número de lugares que são visitados, aumentando assim a estada média, e distribuindo os visitantes por meses onde existe menor sobrecarga dos destinos e da sua infraestrutura.

Manter a caminhada de subida de preços, a qual para ser sustentável deve ser acompanhada por melhorias ao nível do produto e serviço. Só assim o sector poderá pagar melhor, para contratar melhor e manter os melhores.

Por outro lado, é prioritário aumentar e melhorar a infraestrutura aeroportuária. O novo aeroporto de Lisboa é a prioridade nº1 mas devemos começar a pensar já 20 anos à frente.

Não sendo expectável que a forma de chegar de quem nos visita se vá alterar muito nos próximos anos, devemos pensar se fará sentido termos pequenos aeroportos de apoio fora dos grandes centros urbanos, e que podem funcionar como catalisadores de novos destinos e regiões. Beja, Bragança, Tires, Monte Leiria (Monte Real) ou Viseu podem ser soluções para serem novos pontos de entrada.

Por fim, continuarmo-nos a promover como um destino eclético, democrático e jovem. O aumento do gasto médio nos nossos alojamentos, restaurantes, lojas e actividades é importante, mas é também fundamental mantermos uma oferta acessível aos mais novos para que nos queiram continuar a visitar. No futuro, terão outros rendimentos e necessidades.

Os resultados da mudança de estratégia na forma como comunicamos e posicionamos o país e as nossas cidades estão à vista. Temos crescido em todos os indicadores em relação à nossa concorrência e o país em 2017 ultrapassou a Grécia no total de receitas provenientes do Turismo (Organização Mundial do Turismo). O Porto foi mesmo a cidade Europeia com o maior crescimento de receitas turísticas na Europa em 2016 e 2017 com crescimentos no seu RevPar de 14,80% e 12,80% respectivamente (PWC) e prevê-se que mantenha o 1º lugar no ranking em 2018.

Muito desse resultado se deve à subida de qualidade e respectiva subida de preços das nossas unidades de alojamento. Portugal já não é um destino low cost, apesar de ser servido cada vez melhor e mais frequentemente pelas tão importantes companhias aéreas low cost. Há obviamente novos riscos e desafios, agora que estamos com RevPars próximos de Milão e Roma, no caso de Lisboa, e superamos os RevPars de Berlim e Praga no caso de Lisboa e Porto.

Há claramente uma mudança de paradigma na forma como as pessoas que nos visitam nos vêm. Para que o ciclo virtuoso não pare e se torne cada vez mais sustentável, devemos promover-nos para passar a ser olhados como um país de regiões e cidades onde se pense, não apenas em visitar, mas em investir, estudar e viver. 

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Por Bernardo D'Eça Leal
Managing Partner
The Independente Collective
www.thecollective.pt

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