Por Rui Soares Franco
ruioreysfranco@hotmail.com
Consultor em Turismo e Hotelaria
Consultor em Turismo e Hotelaria
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«Não interessa construir mais do mesmo. O típico figurino de casas implantadas nas envolventes dos campos de golfe sem qualquer particularidade de diferenciação está ultrapassado e antiquado.»
Por todo o lado se ouve dizer que nada ficará na mesma depois desta crise e julgo que têm razão. As novas tendências de consumo serão alteradas com base numa modificação profunda dos critérios de prioridades. E o Turismo não vai fugir à regra. Aliás, mesmo antes da actual crise, já se assistia a uma alteração profunda nos critérios de valorização do produto turístico por parte dos consumidores. O turista vem já demonstrando que o anterior figurino turístico dos resorts está ultrapassado. Não interessa construir mais do mesmo. O típico figurino de casas implantadas nas envolventes dos campos de golfe sem qualquer particularidade de diferenciação está ultrapassado e antiquado.
Importa então alterar o modelo e adequá-lo às novas tendências do mercado. E o que querem os turistas e residentes, temporários ou não, de um moderno resort em Portugal?
Tendo em consideração as novas preocupações com questões como sejam a saúde e segurança, o ambiente, as novas tecnologias, o conhecimento, a envolvência, as pessoas, a animação turística, etc., entendo que serão estes valores que deverão estar presentes nas novas concepções de empreendimentos turísticos em Portugal, aliados à necessidade de uma maior socialização sem se perder a privacidade. O cliente destes empreendimentos tem neste momento várias preocupações que importa ter em conta e que vão influenciar decisivamente o seu critério de “consumo turístico”:
A saúde – é hoje a questão mais importante e que tem de estar presente em qualquer moderna estrutura de turismo. A possibilidade de o turista, durante a sua estadia ou permanência no empreendimento, poder tratar do seu corpo e da sua mente, utilizando todo o tipo de propostas existentes, quer ao nível do SPA quer ao nível de ginásios que lhe permitam manter a forma física e psíquica. Por outro lado, deverão ser garantidas aos residentes respostas rápidas e eficientes na área dos cuidados de saúde primários. Este aspecto, aliado a questões de segurança das pessoas e bens, será um dos principais factores que o turista terá em linha de conta quando escolher o seu destino turístico.
O território – é, cada vez mais, valorizado pelo cliente. A sua preocupação com a integração do empreendimento no espaço e, sobretudo, o respeito pela morfologia do território é muito grande. A garantia da preservação e do respeito pela ecologia, através duma fruição do espaço de forma equilibrada e respeitadora da história da sua evolução, são preocupações cada vez mais presentes. Por outro lado, os resorts terão que ter capacidade para fidelizar os seus utentes ao território, ou seja, o cliente precisa de se sentir atraído por esse mesmo território e não só pelo empreendimento em si.
O ambiente – à questão do território, está associada a preocupação com o ambiente e o respeito pela natureza. Este aspecto será tido em linha de conta pelos futuros compradores destes espaços. Conceitos ligados ao Walking Village, aspectos relacionados com as energias alternativas e as boas práticas ambientais, estarão na linha da frente de quem escolhe novos destinos.
As pessoas – a população local é um factor importantíssimo no sucesso de um resort, não só pela mão-de-obra que fornece, mas também pela necessidade de socialização de que os seus utentes carecem. Esta população deverá ser sensibilizada para as oportunidades de emprego que vão surgir mas sobretudo para a sua capacidade de acolhimento e de socialização. Será um factor que contribuirá também para a fidelização da clientela a qual procura sempre manter um contacto com a população local.
As novas tecnologias – hoje em dia, já ninguém vive sem as novas tecnologias. Será uma das contradições do novo turista – viver a natureza tal qual ela é com todo o respeito pelo ambiente e a natureza, mas sem abdicar das vantagens que as novas tecnologias trazem.
O conhecimento – actualmente, as pessoas têm preocupações crescentes com o conhecimento. Deverá ter-se então a preocupação de dotar os empreendimentos de oportunidades nesta área. Estas poderão envolver estruturas de ensino que possibilitem pequenos cursos nas vertentes do ambiente, da natureza, da história, da arte, etc. Estas estruturas, embora tendo uma componente de ensino, deverão possibilitar experiências aliando o conhecimento à ocupação dos tempos livres, criando pólos de interesse e experiências várias que transformem a estadia em acontecimentos que valerão a pena repetir.
A animação turística – será também um aspecto a ter em linha de conta. Os equipamentos desportivos e de lazer a implantar nos espaços lúdicos dos empreendimentos deverão respeitar as exigências da clientela prioritária dos mesmos, para que ofereçam sempre soluções alternativas para a ocupação dos tempos livres.
Estes são alguns dos valores que devem estar presentes nos novos empreendimentos e que os actuais fluxos turísticos esperam encontrar nas novas propostas de viagem.
Mas consideramos também não menos importantes as questões relacionadas com a linguagem arquitectónica dos empreendimentos. Como afirmávamos no início, o modelo dos resorts que tanto sucesso teve no passado, está completamente ultrapassado. Privacidade não quer dizer isolamento e, hoje em dia, a “nuclealização” das estruturas é muito importante em oposição à solução anterior. A criação de núcleos populacionais em que se garanta simultaneamente a privacidade de cada um, é uma das preocupações que deverá estar presente na concepção dos futuros resorts a instalar em Portugal.
No entanto, há que estar atento a toda esta evolução, muito mais rápida que o tempo de concretização física de qualquer empreendimento e é aqui que reside toda a dificuldade de se conceber um produto perfeitamente adaptado à realidade do mercado existente à data da sua conclusão.
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Rui d’Orey Soares Franco iniciou a sua carreira na Direcção-Geral do Turismo, onde ao longo de 32 anos e de entre outras tarefas, criou e desenvolveu o Gabinete de Apoio ao Investidor, projecto-piloto na Administração Pública. Desenvolveu actividades específicas na área da Acessibilidade ao Turismo e foi coordenador da Comissão de Avaliação dos Projectos PITER.
Actualmente, desenvolve a sua actividade como consultor de investimento em hotelaria e turismo, auxiliando Grupos Hoteleiros, Promotores e Investidores na definição e planeamento dos seus investimentos.
3 comentários:
O modelo turístico está numa fase de mudança.
O modelo de desenvolvimento turístico deve claramente seguir as tendências do perfil da procura. Só convergindo os nossos recursos turístico com as novas tendências de hábitos de consumo turístico, é que seremos compettitivos no mercado global, diferenciando-nos pela autenticidade.
Porém, temos que ter a capacidade de cortar com a crónica tendência portuguesa de perseguir as oportunidades como se de uma corrida de galgos se tratasse. Ter a consciência que para a constituição de um Destino - Portugal - e sua consagração internacional é fundamental que haja uma valorização transversal de todos os recursos / produtos turísticos. Que independentemente das margens que proporcionam, todos contribuem para o aumento da competitividade turistica nacional.
Talvez não seja uma corrida ao El Dorado, mas haverá seguramente um El Dorado em cada um dos recursos nacionais com potencial para exploração turistica.
Gonçalo Garcia
Gonçalo,
É um prazer ter-te por cá, não nos vemos há algum tempo!
Sempre me pareceu que o modelo turístico em Portugal deveria ser devidamente complementado com as áreas cultural, patrimonial, gastronómica, de lazer, imobiliária, saúde, infraestruturas viárias... e com as pessoas! E muito aprendi com o Rui Soares Franco, neste aspecto.
Sem as pessoas, sem as populações locais, sem o seu envolvimento, o turismo terá mais dificuldades em se afirmar como sector económico.
Podemos criticar muita coisa, mas em Portugal, onde eu vi esta lógica e modelo a funcionarem melhor foi... na Madeira!
Um abraço e volta mais vezes.
Agradeço os comentários com os quais concordo. A autenticidade dos nossos recursos é uma forma de identidade de um povo que se criou e desenvolveu num determinado espaço territorial e no tempo. Isto se chama cultura de um povo e que temos de o saber vender como factor de atractividade turística.
Até à próxima
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