Por Pedro Valente
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Os tempos
conturbados que atravessamos levantam grandes dúvidas aos investidores que,
face à instabilidade dos mercados financeiros, procuram refúgios para o seu
dinheiro. Neste contexto de grandes volatilidades o imobiliário comercial
apresenta-se claramente como um investimento para o momento atual.
Mas porquê investir em imobiliário comercial?
Mas porquê investir em imobiliário comercial?
Quando comparado com outras classes de ativos (ações, obrigações, etc…) o imobiliário apresenta alguns aspetos muito interessantes, que aparecem reforçados atualmente, senão vejamos.
Cada investidor
ao compor a sua carteira de investimentos procura obter a máxima rentabilidade
dentro de determinado risco que está disposto a assumir.
Já há muitos
anos que a Teoria do Portfolio Moderno
(Markowitz) alerta para o facto do investidor não dever colocar “os ovos todos
no mesmo cesto” mas antes diversificar, construindo carteiras que incluam
diversos ativos com rentabilidades e volatilidades várias. As análises feitas com base
nesta teoria indicam montantes minimos de 10-20% a alocar em imobiliário.
No entanto, esta
análise tem por base a rentabilidade e volatilidade de cada classe de ativo. Ora, no momento atual esta análise não corresponde necessariamente à visão dos investidores
que têm grandes preocupações em relação à possibilidade de desvalorização
abrupta dos ativos, o que vem claramente reforçar o imobiliário comercial como ativo de refúgio, por ser muito resistente e assim adaptado aos tempos
conturbados que vivemos.
As
caracteristicas fisicas do imobiliário conferem-lhe grande resistência às
perdas. Quando vemos muitos outros ativos com valores a tender para zero, ficamos com a certeza que estas
caracteristicas do imobiliário limitam as perdas possiveis (o terreno e as
construções existentes vão sempre valer qualquer coisa…ao contrário de algumas ações ou obrigações que podem atingir a desvalorização total). Por isso hoje
mais do que nunca a percentagem da carteira de investimento alocada a
imobiliário deve ser elevada.
Lia no outro dia
alguém que comparava os investidores que tinham ações ou obrigações do Lehman e os que
tinham a sede do Banco, o que me fez logo pensar nos investidores que compraram ações do BCP há alguns anos e os que, no mesmo momento, investiram nos imóveis
que o banco utiliza. Tenho a certeza que sei quem é que está a perder mais…
Claro está que
esta proteção contra perdas totais varia muito e será sempre superior em edifícios bem
localizados. Um edifício na Avenida da Liberdade nunca vai desvalorizar tanto
como em outras localizações periféricas!
Mas, além disto,
de vez em quando pergunto aos meus clientes onde é que, em momentos conturbados
como os que atravessamos, colocam o dinheiro e a resposta invariavelmente recai
sobre as obrigações.
Ora, quando
comparo uma obrigação (de empresas ou do tesouro) com um edifício de qualidade
com um bom inquilino e contrato de arrendamento vejo imediatamente duas
diferenças:
- Rentabilidades mais interessantes no imobiliário, assumindo o mesmo nível de risco, e
- Proteção contra a inflação.
As recentes obrigações das principais empresas portuguesas apresentaram rentabilidades anuais na ordem dos 6% brutos, enquanto as yields brutas em edifícios prime andam nos 8% (entretanto o governo alemão continua a vender obrigações do tesouro com taxa negativa…).
- Rentabilidades mais interessantes no imobiliário, assumindo o mesmo nível de risco, e
- Proteção contra a inflação.
As recentes obrigações das principais empresas portuguesas apresentaram rentabilidades anuais na ordem dos 6% brutos, enquanto as yields brutas em edifícios prime andam nos 8% (entretanto o governo alemão continua a vender obrigações do tesouro com taxa negativa…).
E as
rentabilidades no imobiliário (rendas) são atualizadas anualmente, proporcionando, assim, proteção contra a inflação (contra rentabilidades fixas no caso das
obrigações).
Atenção que o
coeficiente de atualização de rendas para este ano é de 3,36%. O que me parece
muito interessante, sobretudo quando falamos de rendas elevadas.
A estas
vantagens podíamos ainda juntar a estabilidade das rentabilidades imobiliárias,
por oposição às rentabilidades das obrigações.
Em suma, o investimento em imobiliário comercial é no momento presente
claramente muito interessante face à relação óbvia proteção / remuneração sobretudo na
comparação direta com outras classes de ativos.
4 comentários:
Apenas uma achega para os menos familiarizados com alguns termos: "imobiliário comercial", ou em Inglês "Commercial Real Estate" não significa lojas ou centros comerciais ou qualquer outro imóvel de retail.
"Imobiliário Comercial" é todo o imóvel que gera um rendimento periódico, ou seja, que se encontra arrendado, com excepção dos imóveis residenciais.
Um escritório, loja, armazém, desde que com contrato de arrendamento, gerando um rendimento relativamente constante, é intitulado "Imobiliário Comercial".
Eu acrescentaria uma definição que li num livro norte-americano, que dizia qq coisa do género (tradução livre): imobiliário comercial é qualquer imóvel em rendimento. No caso residencial, se estivermos a falar de mais do que "alguns" apartamentos, já se podem incluir nessa categoria... será um portfolio de imóveis residenciais!
Pedro Pereira Nunes, obrigado pela achega, sempre atento!
Pedro Valente, obrigado pelo excelente artigo. Concordo com grande parte do que escreves e acrescentaria o seguinte:
- Naturalmente que uma acção ou obrigação pode tender para zero, um imóvel tb mas com menos probabilidade. Como tb existem derivados que podem tender para menos infinito... É uma questão do risco assumido. Por isso, a comparação ipsis verbis talvez não seja a mais correcta. Existem investidores para tudo, e daí a Teoria de Markowitz ainda fazer algum sentido;
- Na conjuntura actual, ter mais imobiliário na carteira de investimentos pode representar um risco acrescido e pode não criar a diversificação pretendida. Isto porque, mais do que nunca, o activo imobiliário apresenta um elevado risco de liquidez. Ele já tem esse risco por natureza, acrescido no momento actual. Ao passo que uma obrigação, não. Levada até à maturidade, a yield to maturity aplica-se na perfeição (ou quase...); no imobiliário, claramente não!
- Por outro lado, a maior volatilidade, quer das acções, quer das próprias OT’s em mercado secundário, pode levar a um desequilíbrio momentâneo da carteira, quanto maior o peso do imobiliário (que não sendo tão volátil, pesa mais e mais em caso de perdas nos mobiliários), o que aliás foi o que aconteceu entre 2007-2009. E como na conjuntura actual, "cash is king", aumentar o peso do imobiliário na carteira pode ser arriscado.
- A comparação de yields brutas e nominais faz sentido e está correcta, mas da bruta à líquida, vai ainda um grande passo, devido ao maior peso de comissões e fiscalidade nos imóveis.
- Por fim, duvido que se consigam fechar negócios, hoje, com yields brutas de 8%...
Abraço.
Não podemos esquecer que a crise de vivemos colocou em causa muito daquilo que tinhamos como praticamente certo.
O imobiliário já de si um investimento com pouca liquidez é hoje praticamente iliquido, os retornos (rendas / yields) estão debaixo de elevada pressão, os custos sobre a propriedade e o rendimento (IMI e Imposto sobre Rendimento) têm tendencia a aumentar, etc...
É como o Gonçalo Nascimento Rodrigues afirma, com a desvalorização, por vezes acelerada, de outros activos da carteira, quem tenha uma exposição de 10% ou 15% em imobiliário corre o risco de ver essa exposição passar para 30%, 40% ou 60%.
Nesta altura do campeonato ter uma carteira com 30%, 40% ou 60% de activos iliquidos pode não ser boa ideia!
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