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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

É o veículo, estúpido!

Por Gonçalo Nascimento Rodrigues
Out of the Box
Main Thinker

OTBX, Consultoria em Finanças Imobiliárias, Lda.
Managing Director






Não há dia em que não haja alguém, conhecedor ou não do mercado imobiliário, que venha dizer que o arrendamento e a reabilitação são a solução para a recuperação do sector. A construção nova, de raiz, os lucros milionários em loteamentos e afins, a compra de habitação para uso próprio... tudo terminou! Entramos na era de um novo paradigma.

Paradigmas à parte - quem vai lendo as linhas que escrevo e as apresentações que faço já sabe o que penso sobre essa treta do paradigma - há uma coisa que ninguém se lembra, salvo raríssimas excepções (normalmente dos verdadeiros conhecedores da matéria): dos veículos.

Não, não estamos a falar nem de automóveis, nem tão pouco de bicicletas, tão na moda nos tempos de hoje.

O imobiliário, hoje em dia, obriga a que tenhamos uma visão broadband do mercado. Temos de entender quais são, verdadeiramente, os value-drivers do mercado imobiliário, aquilo que influencia o seu andamento  e a configuração dos ciclos. É preciso entendermos que o mercado não se faz somente da procura e da oferta. A componente fiscal e do veículo são também muito importantes.

Vem este tema a propósito por causa dos Fundos de Reabilitação Urbana (FRU) e os Fundos de Investimento Imobiliário de Arrendamento Habitacional (FIIAH). Os primeiros já se foram, os segundos estão mesmo a ir...

A legislação que enquadra os FRU previa que estes só poderiam ser constituídos até 31 de Dezembro de 2012. Já os FIIAH, o prazo é 31 de Dezembro de 2013.

Como queremos nós convencer investidores a investir em Portugal, na reabilitação urbana e em produtos imobiliários destinados ao arrendamento, se não temos nenhuma vantagem comparativa em termos fiscais e de gestão?

Como podem os nossos políticos, actores e decisores anunciarem a reabilitação e o arrendamento como a solução mágica para sairmos do actual estado de coisas (claramente, um estado imóvel, nem de propósito!), quando depois ninguém se lembra de criar as necessárias condições de investimento?

E o que falta, então? Na minha perspectiva, o veículo, entre outras coisas, claro está. Ter de dizer a um investidor que para investir em habitação para arrendamento, terá de pagar, logo de início, cerca de 8% em impostos e taxas e que depois, para além do IMI, ainda terá de pagar ou 26,5% (em sede de IRC e derrama), ou 28,5% (em sede de IRS) sobre os rendimentos auferidos... é dose!

E a gestão? Veículos de investimento não temos... temos know-how, muitos milhares de milhões em gestão mas não temos onde colocar os imóveis... É bom termos todos presentes que, se nada for feito, a partir de 01 de Janeiro de 2014 não teremos nenhum veículo adequado ao investimento imobiliário em Portugal. Os fundos fechados não têm qualquer tipo de benefício fiscal, nem de outro tipo, os FRU já terminaram, os FIIAH vão pelo mesmo caminho. Sobram os fundos abertos, no estado em que estão, com participantes a desaparecer e sem qualquer liquidez, e os fundos fechados de subscrição pública (existirá algum?).

Adios, adieu, auf wiedersehen, goodbye, dizia José Cid. So long, farewell, aufi wiedersehen, goodbye, diziam as criancinhas Von Trapp.

Eu diria antes,  é o veículo, estúpido! Sem ofensa...

Bons negócios (imobiliários)!

5 comentários:

Anónimo disse...

Quem acredita que é possivel atrair investimento para o mercado imobiliário com tão elevada carga fiscal?
É quase impossivel, com o preço a que está o dinheiro e com carga fiscal absurda ninguém, que saiba fazer contas, quererá investir.

Anónimo disse...

Se os bancos voltassem a fazer empréstimos para habitação como faziam há uns 5-6 anos atrás a grande maioria das construções novas eram vendidas. o problema não é a falta de clientes é a falta de financiamento. O mesmo se passa com a reabilitação, se os bancos não emprestam os possiveis clientes não vão poder comprar e o arrendamento é uma falsa questão, pois ás empresas de construção não interessa arrendar, mas sim vender.

Gonçalo Nascimento Rodrigues disse...

Peço aos caros anónimos comentadores que, por favor, se identifiquem.

Regras da casa...

João Silva disse...

Penso que qualquer tema acerca do presente e futuro do mercado imobiliário terá de passar por estas ideias:

- Reordenamento do território (redefinição/diminuição das capacidades construtivas);

- Rentabilizar os investimentos/erros efetuados;

- Fomento da industria turistica (não como no Algarve, por favor!);

- E claro REABILITAÇÃO e SUSTENTABILIDADE;

Já nada vai voltar a ser como era, a banca poderá ajudar a resolver parte mas tb poderá afundar mais o "barco" se as suas apostas forem erradas.

Não necessitamos de mais betão.
Necessitamos é de rentabilizar o que existe...

JoãoSilva - Arq.

Pedro Pereira Nunes disse...

Nem mais Gonçalo.
Já aqui escrevi algo semelhante.
A este propósito, gostaria de acrescentar alguns comentários transmitidos por alguém com experiência no mercado de arrendamento habitacional na Holanda (caso de sucesso em termos investimento institucional): este mercado só funciona se houver vontade política, pois apresenta um perfil de rendibilidade limitado e uma elevada "interferência" social no País (entre outras razões). Além do mais, é imperativo que se sinalize a estabilidade de longo prazo de qualquer regime para o sector (fiscalidade, veículos, subsídios, ...).

Tudo ideias já aqui transmitidas no "nosso" Out of the Box.

Faz falta ao sector um Business Plan público. Tal Business Plan poderia definir onde queremos posicionar o nosso mercado imobiliário no longo prazo, estabelecer como lá chegar, e prever a sua implementação. Tudo com um horizonte temporal alargado!